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[LISTA] 10 ADAPTAÇÕES DE DRÁCULA PARA AS TELAS

sexta-feira, 29 de junho de 2018.

          Segundo o Guinness Book, Drácula é "o monstro fictício com maior número de aparições diretas e indiretas na mídia". De fato, desde quadrinhos a jogos e até telenovelas, o personagem está presente numa infinidade de produções, destacando-se o cinema, onde Drácula já foi personagem de mais de duzentos filmes. Entretanto, a maioria desses filmes utiliza o personagem de forma “livre”, ou seja, sem preocupação em preservar o contexto, a ambientação, a época ou os demais personagens do livro de Bram Stoker.
          Porém, mesmo em menor quantidade, existem alguns filmes que se esforçam por seguir o romance (com maior ou menor nível de fidelidade, evidentemente). Esta lista reúne dez produções  do cinema e da televisão que procuram manter a atmosfera e o roteiro do clássico de Stoker. Em alguns casos, a história é bastante fiel ao material original; em outros, o roteiro é apenas parcialmente inspirado no livro.




1. NOSFERATU: UMA SINFONIA DE HORROR
(Nosferatu: Eine Symphonie Des Grauens, 1922)
Direção: F. W. Murnau

Primeira adaptação de Drácula, já foi comentada AQUI
Embora não autorizada e apesar da longínqua data da produção, é um das melhores adaptações do livro, além de uma das melhores representações do vampiro.









2. DRÁCULA
(Dracula, 1931)
Direção: Tod Browning

Este filme é responsável pela imagem de Drácula que se tornou icônica na cultura pop: o cabelo “boi lambeu” e a longa capa preta (elementos não citados no livro) fizeram de Bela Lugosi a primeira representação clássica do elegante conde para as telas. Essa imagem tem sido adotada pela maioria das produções posteriores sobre Drácula, de filmes a desenhos animados.






3. HORROR DE DRÁCULA / O VAMPIRO DA NOITE
(Dracula, 1958)
Direção: Terence Fisher

Primeiro filme da longa série de produções da Hammer com Christopher Lee (tido por muitos como o melhor intérprete do personagem) no papel de Drácula.  Apesar de ter pouca coisa do livro, é considerado um dos melhores filmes de Drácula e um dos clássicos de horror dos anos 50.







4. CONDE DRÁCULA 
(Count Dracula, 1970)
Direção: Jesús Franco

Neste filme Christopher Lee retorna ao papel que lhe consagrou como um dos ícones do terror, embora esta produção não tenha nenhum vínculo com os filmes da Hammer. É um filme independente daquela saga. Aqui o roteiro é bastante fiel ao livro, se comparado com os filmes daquela produtora. Particularmente considero esse Drácula a representação mais fiel do vampiro como descrito no romance (lembraram até do bigode, para diferenciar esse Drácula dos outros filmes protagonizados por Lee). Outro ponto interessante é a presença de Klaus Kinski como Renfield; poucos anos mais tarde, Kinski faria o papel do próprio Drácula no remake de Nosferatu realizado por Herzog.


5. DRÁCULA: O DEMÔNIO DAS TREVAS
(Bram Stoker's Dracula, 1973)
Direção: Dan Curtis

Este filme é interessante porque reúne dois “peritos” em vampiros: o diretor Dan Curtis, criador da série/novela Dark shadows, muitíssimo popular nos anos 60, acompanhando os dramas do vampiro Barnabas Collins e outros seres fantásticos; e o roteirista Richard Matheson, autor de Eu sou a lenda (I am legend), clássico de terror e ficção científica de 1954, que narra um “apocalipse vampiro” resultante de uma pandemia global. Esta adaptação é a primeira a introduzir no roteiro a ideia do amor reencarnado de Drácula, inexistente no livro e posteriormente reciclada de forma mais consistente por Coppola no seu filme dos anos 90.




6. DRÁCULA
(Count Dracula, 1977)
Direção: Philip Saville

Produção da BBC (o que geralmente é sinônimo de qualidade, em se tratando de clássicos), este filme de aproximadamente 2h30min foi lançado originalmente como uma minissérie em duas partes. Afora algumas pequenas alterações (como o fato de Lucy e Mina serem irmãs, e Lucy ser noiva de Quincey, e não de Arthur), essa adaptação é satisfatoriamente fiel aos pontos principais do livro. Além disso, essa versão tem o melhor Renfield, na minha opinião; tanto fisicamente quanto na atuação, Jack Shepherd está impecável.






7. DRÁCULA
(Dracula, 1979)
Direção: John Badhham

Como o filme de 1958, este possui pouca coisa do romance. Aqui a história já começa com o naufrágio do Demeter (o navio que traz Drácula da Transilvânia para Londres). A fotografia deste filme é muito interessante, carregada de um tom sombrio e gótico, sobretudo quando se mostra Carfax Abbey (externa ou internamente). Os efeitos especiais de Drácula escalando paredes e transformando-se em morcego e lobo também são bons, considerando o orçamento limitado da produção.





8. NOSFERATU: O VAMPIRO DA NOITE
(Nosferatu: Phantom der nacht, 1979)
Direção: Werner Herzog

Embora seja basicamente um remake do Nosferatu de Murnau, esta produção tem identidade própria e merece ser conferida, tanto pela atmosfera sombria e tensa quanto pela atuação magistral de Klaus Kinski como o nefasto conde Drácula. Diferente da primeira adaptação, implicada com problemas de direitos autorais não cedidos, quando esta nova versão foi realizada o romance de Stoker já se encontrava em domínio público, o que possibilitou que os nomes originais dos personagens do livro fossem mantidos.




9. DRÁCULA DE BRAM STOKER
(Bram Stoker's Dracula, 1992)
Direção: Francis Ford Coppola

Obra-prima de Coppola, vencedora de 3 Oscars, esta adaptação foi bastante influenciada pelos conceitos e atmosfera dos filmes anteriores. O resultado é, na minha opinião, a melhor adaptação de Drácula já realizada até hoje, tanto em termos de fidelidade ao livro quanto nos aspectos técnicos: dos figurinos aos efeitos especiais, tudo é magnífico e contribui para fornecer um espetáculo gótico. Este filme merece um post só para ele.





10. DRÁCULA 3D 
(Dracula 3D, 2012)
Direção: Dario Argento

Embora seja a adaptação mais recente desta lista, é também a que apresenta mais problemas: do péssimo CG ao roteiro inconsistente, uma legião dos próprios fãs de Argento considera esta a sua pior obra. Realmente, é difícil defender algum aspecto deste filme. Vale, talvez, pela participação de Rutger Hauer (que já foi vampiro-líder em alguns filmes) como Van Helsing, embora tanto o ator quanto o personagem sejam subestimados nesta produção. Enfim, coloquei este filme aqui apenas para completar os dez.


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[FILME] MARTIN (Martin, 1977)

segunda-feira, 25 de junho de 2018.

Escrito e dirigido por ninguém menos que George Romero (ele mesmo, o “pai dos zumbis”), Martin infelizmente não carrega a popularidade e a fama dos clássicos do cineasta, como A noite dos mortos-vivos ou Dia dos mortos. Apesar disso, foi aclamado pela crítica como um dos trabalhos mais originais na abordagem do vampirismo e o próprio Romero chegou a afirmar que se trata do seu melhor filme.
O que define um vampiro? Ter uma sede incontrolável por sangue humano? Transformar-se em morcego? Ter caninos longos e afiados? Dormir num caixão? Temer símbolos religiosos e alho? Romero descontrói toda essa mitologia e reduz o vampirismo praticamente a um status patológico no limiar entre a paranoia e a esquizofrenia.
Na história acompanhamos o excêntrico personagem-título Martin (John Amplas), que acredita ser um vampiro, resultado de uma maldição que está na sua família há muitas gerações. Essa crença é corroborada por Cuda (Lincoln Maazel), um primo seu, que realmente acredita que Martin é um Nosferatu e, apesar de levá-lo para morar consigo, tem a casa cheia de crucifixos e réstias de alho, artigos que na mentalidade dele podem protegê-lo e suprimir os impulsos vampirescos de Martin enquanto ele vive ali. Aliás, se observarmos o filme como um retrato de distúrbios mentais, perceberemos que Martin não é o único neurótico da família; o final do filme, chocante e imprevisível, diga-se de passagem, deixa claro o que já estava subentendido do fanatismo supersticioso de Cuda.
          Logo na introdução do filme vemos Martin atacando uma vítima que viaja com ele num trem; metodicamente, ele injeta uma droga numa mulher, imobilizando-a e posteriormente fazendo sexo com ela. Só então ele utiliza uma lâmina para fazer um corte longitudinal num dos braços dela, alimentando-se do sangue que jorra dali. Tudo isso é feito com a mulher ainda inerte pelo efeito da injeção; terminada a refeição, Martin se livra das evidências de sua presença ali e desaparece (não literalmente, evaporando ou virando névoa como Drácula: simplesmente saindo sorrateiro do vagão). Talvez este parágrafo soe muito “spoilerento”, mas achei importante detalhar o modus operandi de Martin porque ao longo do filme ele fará novas vítimas seguindo esse processo meticulosamente.
          É interessante como Romero trabalha a associação entre sexo e alimentação vampiresca; desde clássicos, como o Drácula do Coppola até produções modernas, como a série True Blood, a mordida e o ato de se alimentar têm uma óbvia conotação sexual, erótica. As vítimas de Martin são invariavelmente mulheres atraentes e, sendo ele tímido e introvertido, a princípio só consegue obter alguma satisfação sexual com alguém inconsciente. Uma coisa completa a outra. 
        A “geração ZZZ” (aquela para quem um filme de vampiro precisa ser obrigatoriamente um espetáculo sangrento ao estilo 30 dias de noite ou Vampiros de John Carpenter para ser considerado “bom”) pode considerar Martin um filme maçante e vazio, mas ao se deixar levar por essa impressão superficial estarão deixando de apreciar um ótimo trabalho de Romero, diferente de tudo o que ele já fez. Aqui ele mescla um horror original, crítica alegórica ao preconceito e à intolerância e doses generosas de drama psicológico e existencial conforme a perspectiva de quem assiste.

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[FILME] DEIXA ELA ENTRAR (Låt den rätte komma in, 2008)

quinta-feira, 21 de junho de 2018.


Baseado no best-seller homônimo do sueco John Ajvide Lindqvist, Deixa ela entrar é a primeira adaptação do livro para o cinema, tendo sido posteriormente refilmado na América com o título Deixe-me entrar (Let me in). A trama do filme original, bem como do livro, se passa num subúrbio de Estocolmo, Suécia, portanto essa primeira adaptação é muito mais fiel do que o remake. Aliás, o roteiro é escrito pelo próprio autor do livro, o que lhe confere o máximo de proximidade com o texto do romance.
Dirigido por Tomas Alfredson, Deixa ela entrar foi aclamado pela crítica especializada e rapidamente ganhou status de produção cult, o que, de fato, é um reconhecimento muito merecido. É um filme impactante não apenas pela abordagem original dada ao vampirismo, mas principalmente pela forma como trata de temas perturbadores, como bullying e pedofilia numa trama que apesar de protagonizada por crianças, passa longe de ser infantil ou superficial.
          A história de Deixa ela entrar, contada de maneira crua, acompanha Oskar (Kåre Hedebrant), um garoto de 12 anos constantemente atormentado por práticas de bullying cometidas por um grupo de garotos mais velhos (e aqui o bullying é nível IT, de Stephen King). Oskar acaba conhecendo Eli (Lina Leandersson), uma menina pálida e solitária que se muda para a vizinhança em companhia de um senhor idoso que supostamente é pai dela. Quase simultaneamente uma série de assassinatos bizarros passa a acontecer nas redondezas e as vítimas têm o sangue completamente drenado.
          Na verdade, Eli é um menino que foi sexualmente mutilado há séculos, ficando com aspecto feminino. No livro é detalhado o ritual de castração a que ele é submetido, mas o diretor Alfredson desistiu de incluir essa cena no filme, o que pode dar ao espectador a impressão de que ele preferiu apresentar Eli como uma menina. Contudo, há uma cena de nudez no filme que se observada com atenção (pois é rápida e não gratuita) deixa evidente que Eli está “incompleta”.
          Visualmente, Deixa ela entrar é um filme impecável, com um estilo limpo e cru, que não precisa de  CG em doses cavalares para impressionar, como ocorre nas produções americanas (inclusive no remake que, apesar de razoavelmente bom, tem ares de blockbuster). O filme de Alfredson é mais focado no drama psicológico e na construção da atmosfera gelada, resultando numa história que sabe exatamente onde e quando fazer o sangue jorrar, sem pressa nem mau gosto.

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[FILME] A SOMBRA DO VAMPIRO (Shadow of the Vampire, 2000)

domingo, 17 de junho de 2018.

A sombra do vampiro é um filme que só será devidamente valorizado por aqueles que já assistiram (e gostaram, preferencialmente) do clássico Nosferatu (já comentado AQUI), do diretor alemão F. W. Murnau.  Não se trata de um remake, mas de uma obra de grande riqueza metalinguística que dialoga com o filme de 1922, “reconstruindo” a história daquele filme com a perspectiva dos bastidores.
Dirigido por E. Elias Merhige (responsável pelo estranho Begotten), A sombra do vampiro foi indicado a 2 Oscars, sendo um deles o de melhor ator coadjuvante para Willem Dafoe, que realmente rouba a cena no papel de Max Schreck (o ator que interpretou o Conde Orlok no filme original). Na trama, vemos um inquieto Murnau (John Makovich, também numa atuação magnífica) tendo que lidar com problemas técnicos da equipe envolvida na produção de Nosferatu e tentando controlar as manias e excentricidades de Max Schreck, o ator que ele contrata para protagonizar seu filme. Acontece que Schreck é de fato um vampiro e Murnau não ignora esse “detalhe”; ao contrário, contrata-o sabendo disso, justamente para dar maior autenticidade à atuação dele no filme. A equipe da produção não demora a notar as bizarrices de Shreck, como o fato de ele ficar o tempo todo caracterizado como vampiro, mesmo fora dos horários de gravação, e a forma como ele prefere ficar sempre na penumbra, além da sua perturbação quando há sangue presente. É claro que para todas essas esquisitices Murnau inventa justificativas (como o fato de que Shreck é um profissional rigorosíssimo obcecado pelo perfeccionismo de suas atuações). Dafoe entrega um Nosferatu que não fica devendo ao Schreck original e equilibra momentos de repulsa e horror com maestria. Além da excelente atuação, merece destaque também a ótima e repugnante maquiagem (a outra categoria indicada ao Oscar).
          A atmosfera do filme é sombria e envolvente, a fotografia é competente, a direção é afinada e o roteiro, baseado em especulações e lendas a respeito da história nebulosa do verdadeiro Schreck (a própria palavra schreck significa “susto”), é um primor à parte. Quem gosta da primeira (e não autorizada) adaptação de Drácula, obra-prima do expressionismo alemão, não pode deixar de conferir essa bela e sombria homenagem àquele clássico.

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[FILME] 30 DIAS DE NOITE (30 Days of Night, 2007/2010)

sexta-feira, 15 de junho de 2018.


Dirigido por David Slade (que mais tarde seria o diretor do 3º filme da franquia Crepúsculo, quem diria?), 30 dias de noite é a adaptação do primeiro volume da série de quadrinhos de mesmo nome, de Steve Niles e Ben Templesmith, publicados no Brasil pela Devir. O roteiro do filme toma algumas liberdades notáveis em relação ao material original, mas de modo geral se mantém bastante fiel ao que é proposto na HQ.
O pôster da produção diz tratar-se do “filme de vampiros mais aterrorizante já feito”; eu não acho que chegue a tanto, mas certamente é um filme tenso com momentos assustadores, com potencial para agradar os fãs de vampiros selvagens e violentos, representados sem maneirismos ou sutileza. Aqui não há preocupação em seduzir (até porque a aparência medonha desses vampiros com dentes de tubarão não é nada atraente) e muito menos amar seres humanos; o modus operandi dos sugadores de 30 dias de noite é claro e simples: caçar, atacar, matar. Não há nem sequer uma conversinha para atrair as vítimas, pois, diferente dos quadrinhos, no filme os vampiros têm uma linguagem própria, o que é uma sacada muito inteligente, dando a ideia de que eles de fato não têm nenhum traço de humanidade.
          Em relação à história, simples, mas eficiente, acompanhamos a literal luta pela sobrevivência de um pequeno grupo de pessoas sitiadas e isoladas do resto do mundo numa minúscula cidade do Alasca durante os 30 dias de noite do título, isto é, o período de aproximadamente um mês em que aquela região fica às escuras. Sem luz solar, a cidade de Barrow é território livre para uma horda de vampiros que chega ali para transformar aquele lugar num pesadelo sangrento.
          O que acho mais interessante em 30 dias de noite é a atmosfera gelada, realçada pela ótima fotografia. O contraste do branco da neve com o vermelho do sangue escorrendo e derramado em profusão (em close ou em vista panorâmica) é visualmente marcante.
          O filme tem um desenvolvimento lento na primeira metade, o que pode desagradar aqueles que esperam uma carnificina frenética, mas acredito que esses apressadinhos não terão do que reclamar quando a "introdução" termina e a cidade de fato se transforma num matadouro a céu aberto.




Com a boa aceitação de público e crítica, era só uma questão de tempo até que 30 dias de noite ganhasse uma sequência. David Slade sai de cena e quem assume a direção é Ben Ketai. Se o pôster do anterior afirmava ser o filme de vampiros mais aterrorizante já feito, esse tenta ir além e garantir que “faz Crepúsculo parecer coisa de jardim de infância”. Isso não é muito inteligente porque, convenhamos: a lista de filmes que pode fazer isso com Crepúsculo é imensa. Parcialmente baseado no segundo volume de quadrinhos de Niles e Templesmith, esse novo filme não caiu muito nas graças do público, mas ainda assim vale a conferida pela curiosidade.

Na trama, Stella, sobrevivente do massacre vampiresco do filme anterior, muda-se para Los Angeles, disposta a revelar o horror ocorrido em Barrow e expor a existência dos vampiros, vingando a morte do marido. Apesar de não ser levada a sério pelo público, ela conhece um pequeno grupo de pessoas que não só acreditam nela como também já tiveram terríveis experiências com vampiros. Eles formam uma espécie de “equipe caça-vampiros” e estão à caça de Lilith, a rainha de todos os vampiros, responsável também pelo ataque a Barrow.
          Um ponto negativo nesse filme é a própria ambientação: não há mais a sombria e gelada cidade do Alasca, cuja atmosfera já tinha um poder impactante. Aqui há uma Los Angeles meio nublada que não convence muito, nem traz o desconforto do filme anterior, que intercalava os ataques dos vampiros e as nevascas, combinando o terror e a instabilidade climática. Outro ponto desfavorável foi a escolha de Kiele Sanchez para o papel de Stella, substituindo Melissa George. Kiele apresenta uma Stella muito apática, com quem é difícil se importar (e isso é grave, considerando que ela é a protagonista). 
          Entretanto, nem tudo está perdido: pessoalmente, considerei Lilith (Mia Kirshner) uma personagem muito mais interessante do que Marlow (Danny Huston), do filme original. Se isso é suficiente para salvar o filme do esquecimento (ou do arrependimento de ter assistido a ele), é coisa que vai do gosto de cada um. Para mim, foi o bastante.

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[LIVRO] FOME DE VIVER (The Hunger, 1981)

quarta-feira, 13 de junho de 2018.


Logo depois de assistir ao filme Fome de viver, de Tony Scott, clássico cult dos anos 80, que chama a atenção pelo visual sombrio e pela abordagem neogótica bastante original do vampirismo, tomei conhecimento do romance que inspirou essa produção, um livro bastante raro atualmente (uma vez que teve apenas duas edições, ambas publicadas no Brasil no início da década de 1980). Depois de muito procurar, finalmente encontrei um exemplar e pude mergulhar na atmosfera desse magnífico drama gótico.
A história gira em torno de Miriam Blaylock, uma vampira com muitos séculos de vida. Já aqui começa a originalidade do livro de Strieber: sua vampira não queima ao sol, não possui presas, não dorme em caixões nem se transforma em morcego. Na verdade, a própria palavra “vampiro” não é mencionada em nenhum momento no livro; esta é uma constatação a que se chega devido às características essenciais do vampirismo clássico: a imortalidade e a fome de sangue.
          Miriam é uma criatura extremamente solitária; os seres da sua espécie estão quase extintos e só podem se multiplicar através da reprodução entre indivíduos dessa espécie. Assim sendo, Miriam sobrevive à passagem dos séculos tendo vários amantes humanos com os quais compartilha sangue; eles não se tornam vampiros, mas seres híbridos, que podem viver por séculos, mas com a mesma necessidade de sangue humano que os vampiros. Contudo, esses amantes têm “prazo de validade”: passados alguns séculos, sucumbem ao peso do tempo, envelhecendo em poucos dias o que deviam ter envelhecido em décadas. Transformam-se em cadáveres conscientes (literalmente, mortos-vivos) que Miriam “guarda” em baús por toda a eternidade, à medida que vai substituindo-os por amantes jovens.
          Preocupada com esse ciclo interminável de trocas de amantes devido ao poder implacável do tempo, Miriam toma conhecimento do trabalho da Dra. Sarah Roberts, especialista em envelhecimento. A clínica em que Sarah trabalha está realizando experimentos sobre longevidade e a influência de Miriam altera radicalmente os rumos dessas experiências, criando um vínculo de sangue premeditado entre Miriam e Sarah, com desdobramentos trágicos.
          Fome de viver é um poderoso romance gótico, excepcionalmente bem elaborado. A abordagem vampiresca (dado que sou fã dessa temática) surpreendeu-me bastante. O modo como o vampirismo é retratado é tão realista e natural que se torna crível, não sobrenatural ou mitológico. Ainda que os vampiros tenham ressuscitado como modismo adolescente, o livro de Whitley Strieber apresenta conceitos fascinantes e criativos acerca de tais seres. Não há puritanismo ou crises existenciais sobre o valor das vidas humanas tiradas. Ao invés disso há a frieza e crueldade instintivas da “espécie” e o forte apelo sexual (inclusive com descrições eróticas de muito bom gosto). A Fome de viver fala mais alto do que remorsos ou culpas, limitações ou receios. Enfim, uma obra pulsante, sombria, sensual e alucinadamente sangrenta: um relato impecável do poder e fascínio vampirescos.

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[HQ] DRÁCULA DE BRAM STOKER (2010)

segunda-feira, 11 de junho de 2018.

Durante a minha adolescência cheguei a ler alguns livros da coleção Veredas, uma série de obras de autores brasileiros direcionada ao público juvenil. A bem da verdade, eu gostava mais das ótimas ilustrações de Eugênio Colonnese do que das histórias propriamente, embora em geral fossem boas tramas. Assim, de certa forma, acabei me familiarizando com o traço de Colonnese e, ao saber que ele havia feito uma adaptação em quadrinhos de Drácula, tive de conferir esse trabalho.
Publicada originalmente na década de 1960, a adaptação de Colonnese é uma releitura simples, mas eficiente, do clássico vampiresco por excelência de Stoker. Gostei particularmente do início, que apresenta a viagem de Jonathan Harker à Transilvânia de forma quase idêntica a como eu imaginava ao ler a obra original. Como no romance, a graphic novel compõe-se em grande parte de registros epistolares, como os diários de Harker, Seward e do capitão do navio Demeter. O modo como o ilustrador (também responsável pelo roteiro) representou os personagens também me agradou, bem como todo o universo gótico da obra, marcado por tons negros, azulados e roxos, evocando a atmosfera predominantemente noturna do livro. Em sua versão original, essa HQ foi publicada em preto e branco, muito comum na década de 60, mas acho que as cores de Miguel Marques e Geraldo Filho deram uma perspectiva interessante à história, sem, contudo, descaracterizá-la. Excluindo-se algumas incoerências gramaticais (poucas, mas notáveis), a experiência de ler essa releitura foi bastante satisfatória para mim.
          Essa adaptação possui ainda, no final, um ótimo apêndice, com informações sobre o escritor Bram Stoker, sobre o desenhista Eugênio Colonnese, uma matéria sobre o percurso dos vampiros (destacando Drácula) no cinema e, por fim, como não poderia deixar de ser, um texto detalhado sobre produções vampirescas no universo dos quadrinhos. Nesse último ponto, que considerei muito instrutivo, descobri que o próprio Colonnese tem destaque com uma produção vampiresca original: trata-se de Mirza (mais detalhes AQUI), vampira criada por ele e que fez bastante sucesso nos quadrinhos do final dos anos 60.
          Avaliando esta graphic novel de Drácula como um todo, creio que a mesma é muito válida para um primeiro contato com a obra de Stoker, mas também como um acréscimo interessante para quem já leu o romance integral e (como é o meu caso) é apaixonado por esse livro. 

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[FILME] QUANDO CHEGA A ESCURIDÃO (Near Dark, 1987)

sábado, 9 de junho de 2018.

O jovem Caleb (Adrian Pasdar) conhece a bela e misteriosa Mae (Jenny Wright), e acaba sendo mordido e transformado em vampiro por ela. Logo Caleb descobre que Mae faz parte de um grupo de vampiros errantes que atacam caroneiros e bares de beira de estrada através dos Estados Unidos. Ele é forçado a seguir com o bando e se aproxima cada vez mais de Mae, ao mesmo tempo em que coloca sua própria família humana em risco.
A sinopse lembra bastante Os Garotos Perdidos (The Lost Boys), também de 1987 e, de fato, em muitos aspectos Quando chega a escuridão (Near dark) trilha os mesmos caminhos que o filme de Joel Schumacher, embora seja bem menos venerado e memorável do que aquele filme. Apesar disso, esta produção vampiresca dirigida por Kathryn Bigelow vale muito a pena ser vista e com certeza merecia um reconhecimento maior.
      Na trama, conhecemos Jesse (Lance Henriksen), Homer (Joshua Miller), Diamondback (Jenette Goldstein) e Severen (Bill Paxton), além da própria Mae, os quais formam o bando de vampiros que Caleb passa a integrar depois de convertido. A princípio, Caleb é hostilizado pelo resto do bando (exceto por Mae), por ter escrúpulos e não conseguir matar seres humanos. Esses resquícios de consciência humana de Caleb acabam colocando a existência do grupo em grave perigo, desencadeando uma excelente sequência de bangue-bangue quando o bando é sitiado pela polícia em seu esconderijo em pleno dia (e aqui a luz solar tem o clássico “efeito churrasco” nos vampiros) e há uma troca de tiros frenética.
        Diferente de Os Garotos Perdidos, os vampiros de Quando chega a escuridão são representados de forma bastante simplificada: eles não têm presas e seus poderes se limitam à imortalidade (no sentido de serem imunes a armas) e grande força física. Também não há qualquer referência aos tradicionais amuletos como crucifixos, água benta e alho para repeli-los e muito menos a velha estaca no coração. Aqui sua única fraqueza (pelo menos a única que é comprovada), além da luz do sol, é o fogo. Isso não torna esses vampiros menos interessantes; na verdade, dentro do contexto da história essas características os tornam mais “orgânicos”, mais realistas, mais críveis.
        Acho que não é possível falar de Quando chega a escuridão sem destacar a magnífica performance de Bill Paxton. O vampiro Severen (que em postura e personalidade lembra bastante o David de Os Garotos Perdidos) é o melhor personagem do filme e rende as melhores sequências: o massacre no bar e o confronto final com Caleb.
        Misturando drama, romance, ação com uma pegada western, boa quantidade de sangue jorrando, ótimas atuações e trilha sonora equilibrada, repito: este filme merece ser visto.


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[FILME] DEIXE-ME ENTRAR (Let me in, 2010)

quinta-feira, 7 de junho de 2018.

          Da mesma forma que A Hora do Espanto, de 2011, aproveitou a onda de “ressurreição” dos bebedores de sangue para refilmar um clássico do gênero, o diretor Matt Reeves (realizador do considerável sucesso Cloverfield: Monstro) apresenta mais um remake para o rol da temática vampiresca, já tão desgastada. Contudo, Deixe-me Entrar (Let Me In) difere agradavelmente da maioria das produções atuais do gênero ao trazer uma abordagem séria e crua ao assunto, resgatando conceitos essenciais do mesmo, ao tempo em que inova nos rumos da história.
          Refilmagem americana do cultuado filme sueco Lat den rätte komma in (Deixa ela entrar), de 2008, Deixe-me entrar apresenta uma proposta ousada na narração da trama, uma vez que os protagonistas são crianças – e uma delas é vampira. A inovação do filme, entretanto, está na postura assumida: o distanciamento de infantilidades; não há pretensão de atenuar violência ou apresentar personagens rasos, por se tratar de crianças, mas, pelo contrário, determinados assuntos “adultos” são tratados com naturalidade no decorrer da projeção, sem maquiagem ou floreios visuais.
          Girando em torno do garoto Owen (Kodi Smit-McPhee), a história revela seu cotidiano difícil, principalmente por sofrer humilhações e bullying na escola; uma cena em especial, em que ele passa por um terrível constrangimento no banheiro é perturbadora o bastante para o espectador notar que evidentemente não está diante de um produto típico para o público infantil.
          É em um desses momentos de revolta por tais humilhações que Owen conhece Abby (Chlöe Grace Moretz), uma garota mais ou menos da idade dele, que acabou de se mudar para o apartamento ao lado de sua casa. A partir de então, desenvolve-se uma relação razoavelmente amistosa entre eles, embora Owen estranhe os mistérios em torno de Abby, como sua insensibilidade ao frio e a intolerância à comida.
          Chama a atenção o contraste construído pela história ao apresentar a vampira mirim Abby: nos momentos em que está com Owen, ela é melancólica, mas afável e o filme assume, nesses momentos, contornos de romance infantil, muito inocente; entretanto, nas situações em que Abby caça e ataca para se alimentar – e, a essa altura, já está claro que ela não aprecia coelhos ou esquilos – ela é selvagem e assustadora, garantindo as cenas mais sangrentas do filme. Este contraste, esta dualidade de personalidade conforme o instante é uma das melhores sacadas da obra, pois garante um equilíbrio entre as ações da personagem, afastando-a do clichê de ser politicamente correta e dando-lhe profundidade, multidimensionalidade.
          Frequentemente se fala que o filme original é muito superior ao remake, mas, embora isso seja verdade, o filme de Reeves possui uma abordagem notavelmente distinta do filme sueco. Enquanto a película de Tomas Alfredson é baseada livro homônimo de John Ajvide Lindqvist, mais concentrado no desenvolvimento do drama e na construção psicológica dos personagens, deixando o vampirismo quase como uma “segunda camada” da história, o novo filme busca um ponto de equilíbrio entre esses temas, dando, porém, ênfase à ação, já que o objetivo aqui é atrair o público dos tradicionais filmes de vampiro sangrentos. Isto não significa que o roteiro da refilmagem seja ruim; não; nesta versão, conforme mencionado, a perspectiva é diferenciada e, embora a violência gráfica e a ação com toques de suspense policial sejam os principais atrativos, os demais aspectos do longa não decepcionam o espectador.
          A transposição da história de Estocolmo para Novo México preservou as características básicas do filme original no plano visual (como, por exemplo, o cenário: uma cidade fria, onde está sempre nevando), enquanto Matt Reeves demonstrou habilidade em controlar o timing do filme, dando aos personagens mirins o tempo necessário, sem pressa ou atraso no desenvolvimento da história, para que a mesma não soasse artificial ou forçada.
          Em resumo, este remake pode não alcançar o nível dramático do original (até porque o elemento da perversão sexual, de importância crucial no filme e livro suecos, foi sutilmente desfocado nesta versão), mas ainda assim é uma produção que tem mais personalidade do que muitos “originais” atuais, como os da lista 10 filmes de vampiro para morrer antes de ver.

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[LIVRO] CREPÚSCULO (Twilight, 2005)

terça-feira, 5 de junho de 2018.

          Cedo ou tarde chegaria a hora de falar sobre Crepúsculo, seja devido a frequentes comparações com outras produções literárias ou cinematográficas atuais sobre vampiros para o público jovem, seja simplesmente para destacar a abordagem e características peculiares conferidas por Stephenie Meyer a seus bebedores de sangue. Este post não irá dissertar sobre os dilemas adolescentes da Bella; o objetivo aqui é focar nas características vampirescas e no contexto delas no universo criado por Meyer. Assim deixarei de lado as sequências e irei me deter basicamente no primeiro livro, uma vez que as regras estabelecidas ali são válidas para as continuações da série.
          Para começar, vamos às características clássicas dos vampiros preservadas em Crepúsculo: são pálidos, possuem pele gelada e dura como mármore, têm força e velocidade sobre-humanas, beleza incomum e, claro, alimentam-se exclusivamente de sangue. Até aqui, essa descrição bem poderia ser aplicada aos vampiros de Anne Rice ou de Bram Stoker, só para citar as referências máximas em literatura vampiresca. Contudo, Meyer acrescentou e/ou alterou outras características, coisa que, se não agradou aos leitores tradicionais, merecem ser analisadas mais a fundo.
          Aqui os vampiros não dormem, não temem símbolos religiosos nem alho (contraste entre Stoker e Rice: tais apetrechos têm efeito no primeiro, mas são igualmente inúteis na segunda) e não temem a luz solar (situação contrária: o próprio Drácula passeia por Londres durante o dia, mas os personagens das Crônicas Vampirescas não têm esse privilégio). Aliás, essa questão da luz solar merece particular atenção; a regra de que os vampiros devem queimar ao sol é um conceito surgido com Nosferatu, de Murnau, em 1922. Até então os vampiros não apareciam durante o dia simplesmente porque eram seres noturnos e, como tais, precisavam dormir do amanhecer ao cair da noite, fosse para abastecer seu “poder maligno” (Drácula), fosse porque eram concebidos como assombrações que, portanto, poderiam atormentar “melhor” os vivos à noite, como os fantasmas supostamente fazem.
          Enfim, voltando a Crepúsculo, provavelmente o aspecto que mais indignou os leitores e tornou Edward e sua turma alvo de chacota e apelidos como “vampiro-fada”, foi justamente o fato de eles brilharem ao sol. Lendo o livro, dá para entender a justificativa parcial para isso: sendo esses vampiros extremamente pálidos e duros, é compreensível que sua pele reflita a luz, como ocorre em qualquer superfície clara, lisa e rígida, resultando nesse brilho. Entretanto, devo dizer que também não gostei desse efeito Globeleza; acredito que se a autora não queria adotar o efeito churrasco, uma vez que seus vampiros são diurnos, poderia simplesmente ignorar o fator sol, como ocorre na série de TV Being Human. Contudo, apesar das zombarias, esse brilho de diamante dos vampiros de Meyer me incomodou muito menos do que o fato de eles fazerem o ensino médio para sempre, colecionando chapéus de formatura ao longo das décadas, enquanto esperam encontrar seu verdadeiro amor humano. Isso para mim foi o ponto mais deprimente do livro, o ápice do tédio de viver.
          Agora, em relação ao sangue, elemento fundamental nas tramas vampirescas, há um grande equívoco quando se afirma que os vampiros de Crepúsculo são todos politicamente corretos e só se alimentam de animais. É necessário fazer uma distinção: os Cullen (família a que Edward pertence) seguem essa dieta vegetariana, mas o universo de Crepúsculo não possui apenas os Cullen. Na verdade, os únicos vampiros que seguem esse estilo de vida, além dos Cullen, são os Denali, seus “parentes” que vivem no Alasca. Todos os demais vampiros, desde os vilões até os que conforme as circunstâncias podem ser considerados “bons” seguem a dieta clássica de sangue humano.
          Outro aspecto curioso em Crepúsculo é o fato de alguns de seus vampiros serem X-Vampires, isto é, possuírem superpoderes que parecem saídos da turma da Marvel. Mais uma vez o livro explica essas habilidades: as características humanas são ampliadas quando alguém se torna vampiro. Assim, Alice, por exemplo, quando humana tinha uma espécie de percepção extra-sensorial, a qual foi aumentada a ponto de se tornar uma vidência parcial. Isto significa, portanto, que o vampirismo não “dá poderes”, mas amplia as habilidades latentes no indivíduo.
          Ainda há pontos que eu gostaria de destacar, mas além de tornarem o texto ainda mais longo, não se encaixariam necessariamente nas características dos vampiros, e sim a temas humanos e realistas, desde a escrita de Stephenie Meyer até a perspectiva da Bella sobre família, sexo e outros conceitos e descobertas que fazem parte da transição da adolescência para a vida adulta. Porém, como eu disse no início, este não é o foco aqui. Para quem tiver interesse nesses outros aspectos indico o livro Crepúsculo e a Filosofia, editado no Brasil pela Madras Editora. Constitui-se de uma coletânea de artigos referentes a vários temas e conceitos abordados na série de Meyer.


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[FILME] A HORA DO ESPANTO (Fright Night, 1985 / 2011)

domingo, 3 de junho de 2018.

Se, no final da primeira década de 2000, a combinação de universo adolescente e vampirismo remete a produções no naipe de Crepúsculo, quase vinte anos antes essa abordagem teen já era utilizada no cinema oitentista através de clássicos como Quando chega a escuridão (Near dark,1987)Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987) e este A Hora do Espanto (Fright Night, 1985). Contudo, nesses filmes a imagem do vampiro ainda não tinha sido diluída nos ideais nobres e românticos que acabaram por transformá-los em super-heróis atormentados por dramas existenciais e um amor fatalista por seres humanos (“o leão se apaixonou pelo cordeiro”, e por aí vai).  Apesar do tom simplista e bem-humorado desses filmes, os vampiros ainda são retratados como os monstros clássicos cujos interesses em seres humanos se restringem a seduzir e abater.
Dirigido por Tom Holland e com Chris Sarandon no papel do sedutor vampiro Jerry Dandridge (parceria que se repetiria 3 anos depois com Brinquedo assassino), A Hora do Espanto é um dos melhores e mais notáveis filmes de vampiro da safra dos anos 80. Misturando terror e humor adolescente com muita eficiência, este filme traz toda a nostalgia dos clássicos trash. Na trama, bastante simples, Charley (William Ragsdale) é um jovem viciado em filmes e programas de terror que passa a suspeitar que o seu novo vizinho é um vampiro. Essa suspeita é reforçada por estranhos eventos que passam a acontecer na vizinhança depois da chegada de Jerry: desaparecimentos, gritos no meio da noite, visitas noturnas suspeitas na casa de Jerry, etc. Cada vez mais convencido de que Jerry é um monstro bebedor de sangue, Charley tenta alertar as autoridades, sem resultado. Ele acaba buscando ajuda de Peter Vincent (Roddy McDowall), apresentador do programa de TV Fright Night e suposto especialista em caçar vampiros.  Entretanto, nem o próprio Peter Vincent acredita em Charley, que por sua vez percebe que o grande matador de vampiros não passa de um velho cético e covarde. O que já era ruim vai piorando à medida que Jerry deixa transparecer suas intenções malignas, colocando Charlie e as pessoas que ele ama em perigo. Além de se “infiltrar” na casa dele, Jerry passa a exercer um forte jogo de sedução sobre Amy (namorada de Charley) semelhante ao que Drácula faria com Mina em Drácula de Bram Stoker, alguns anos depois.
Apesar de não possuir grandes inovações em termos de roteiro, A Hora do Espanto é um filme que cumpre sua função de divertir e entreter e chama a atenção pela sua perspectiva “artística”: da fotografia à trilha sonora, da maquiagem aos efeitos visuais (ainda que datados), ele não decepciona o espectador familiarizado com esse tipo de produção. Destaque para a criatividade dos momentos grotescos: a “destransformação” de um lobisomem fatalmente ferido, a maquiagem bizarra de Amy vampira (sobretudo aquela boca), o derretimento de um vampiro com direito a muita gosma, e as várias caras e bocas de Jerry, além de sua versão “morcego mutante de plástico”, que aparece no último ato enfrentando os protagonistas.


          Em 2011, aproveitando a onda de “ressurreição” dos vampiros com apelo teen na literatura e no cinema, o diretor Craig Gillespie traz uma refilmagem que fica muito abaixo da obra original, mas consegue entreter o público com as atuações razoáveis de Colin Farrell e Anton Yelchin, embora particularmente eu considere David Tennant o maior destaque nessa nova versão.
          O filme de Gillespie não tem a espontaneidade e o roteiro despretensioso e engraçado da película dos anos 80, mas também não é um filme sem identidade. Percebe-se a preocupação do roteiro e da direção em, de fato, atualizar a história e trazer para os dias atuais a divertida situação de um adolescente que descobre que o seu novo vizinho é um vampiro. Charley (Yelchin), o protagonista, a princípio não acredita nisso, mas, quando estranhos acontecimentos se desenrolam nas redondezas, ele percebe a dimensão do perigo e tenta encontrar uma forma de eliminar o monstro, ao lado de sua namorada e sua mãe, ambas também incrédulas sobre essa história de vampiros.
          É interessante que o remake não tenha alterado as características de seus vampiros, de modo que aqui a essência e a mitologia básicas são preservadas de forma exemplar; vampiros queimam ao sol, não têm reflexos (nem aparecem em câmeras!), temem crucifixos e alho e, o principal, são seres sensuais. Colin Farrell está muito à vontade em seu papel de vilão, embora seu vampiro seja mais canastrão do que charmoso. E, falando em canastrice, há que se citar Peter Vincent, o personagem de David Tennant, que vem a ser o mais interessante e engraçado do filme; ele é um tipo de ilusionista fajuto e covarde que apresenta espetáculos e um programa de televisão em que se autodenomina um especialista em vampiros. Ele será o auxiliar de Charley, mesmo que a contragosto, em sua missão de exterminar o vampiro Jerry, tarefa que se revela bem mais difícil do que se imagina. Mas, o que se pode esperar de um “mestre” em caçar vampiros que compra suas armas pelo Ebay e cujo diploma foi baixado da internet?
          Contudo, em alguns aspectos, o novo A Hora do Espanto derrapa quando devia agradar mais o público; uma de suas maiores falhas é o excesso de CG nas cenas de violência, incluindo as mortes exageradamente pirotécnicas dos vampiros. O sangue também é frustrante para os amantes do gore; pouco se vê a boa e velha tinta vermelha ou um xarope qualquer, pois até aqui prevalece a computação gráfica com seu sangue artificial em pixels.
          Então, no fim das contas, A Hora do Espanto não é, decididamente, um filme imperdível nem impecável; pelo contrário, contém algumas falhas e um roteiro apenas sofrível. Apesar disso, este remake tem uma aprovação de mais de 70% no Rotten Tomatoes, o que é uma classificação consideravelmente satisfatória, tendo em vista as críticas mistas que recebeu. O que eu considero inteiramente descartável, a ponto de incluir na lista  10 filmes de vampiro para morrer antes de ver, é A Hora do Espanto 2, não a ótima sequência do original de 1985, mas o filme de 2013, que é absurdamente um remake deste remake de 2011, mudando apenas a ambientação da história e o sexo e a grafia do nome do vampiro: assim, o Jerry passa a ser a Gerry. Lamentável.


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[FILME] O BORDEL DE SANGUE (Bordello of Blood, 1996)

sexta-feira, 1 de junho de 2018.

“Ao ser trazida de volta á vida, Lilith, a rainha dos vampiros, abre um bordel nos subterrâneos de uma funerária para atrair suas vítimas, Após o desaparecimento do irmão de uma linda jovem, o esperto detetive Rafe Guttman descobre o sangrento covil da morta-viva e desvenda sua conexão com o pastor J. C. Current – dono de um milionário império religioso e patrão da irmã do desaparecido.”

        Assim como o próprio título muito autoexplicativo, a sinopse deste filme já deixa claro o quão bizarro e divertido ele é, além de resumir seu conteúdo:  vampiros, sexo... e sangue em profusão. Seguindo um molde similar ao de Um drink no inferno (também de 1996), O bordel de sangue (Bordello of blood) se diferencia, entretanto, pela sensualidade (acentuada pelas numerosas cenas de nudez quase sem censura) de suas sanguessugas, nesse aspecto bem mais atraentes do que os “semi-répteis” do filme de Robert Rodriguez.
Produção derivada da clássica série Tales from the Crypt, muito popular na década de 1990, o filme é “contado” pelo Crypt Keeper (o boneco zumbi dos pôsteres, que introduz e comenta os episódios). Na trama, Lilith (Angie Everhart) é despertada de um estado mumificado por um sujeito nanico que, apesar do tamanho, não é flor que se cheire. Munido de um talismã e mancomunado com o reverendo Current (Chris Sarandon), eles pretendem utilizar os poderes de sedução e selvageria da rainha vampira “a serviço de Deus”, para isso mantendo-a praticamente presa no bordel e enviando para ela os pecadores, que geralmente são jovens a fim de aventuras sexuais exóticas. Um desses jovens é Caleb (Corey Feldman), que fica sabendo da existência de um bordel onde as moças “fazem coisas que nem nome tem ainda” e vai até lá com alguns amigos e não é mais visto depois disso. A irmã de Caleb, que é assistente de Current passa a procurar pelo irmão e contrata o investigador Guttman (Dennis Miller), que não demora a juntar as peças.
Quem já tem alguma familiaridade com os filmes clássicos oitentistas não vai demorar a reconhecer a coincidência de O bordel de sangue ter dois atores conhecidos em produções marcantes daquela época: Chris Sarandon, que foi o vampiro Jerry em A Hora do Espanto (1985), e Corey Feldman, que foi caçador de vampiros Edgar Frog em Os garotos perdidos (1987). Ambos estão muito bem nos novos papéis: Sarandon com seu discurso hipócrita e fanático sobre pecado que lembra o reverendo Newlin de True Blood, e Feldman como o adolescente rebelde que não conhece regras ou limites.
As cenas sangrentas são grotescas, muito bem feitas, com um ótimo trabalho de maquiagem e efeitos, o roteiro tem seus momentos de humor negro (o personagem que “apresenta” o bordel aos jovens desavisados é hilário) e Angie Everhart entrega uma Lilith para ninguém botar defeito. Quer um entretenimento descompromissado, sexy e com muito gore? Pode apostar suas fichas em O bordel de sangue. E não se esqueça de perguntar pelo velório de Cunningham.

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[QUADRINHOS] INTERVIEW WITH THE VAMPIRE (1991 - 1994)

         Publicada pela Innovation Comics, Interview with the vampire foi a primeira transposição do romance homônimo de Anne Rice para out...