Baseado no best-seller homônimo do sueco John Ajvide
Lindqvist, Deixa ela entrar é a primeira adaptação do livro para o cinema,
tendo sido posteriormente refilmado na América com o título Deixe-me entrar (Let me in). A trama do filme original, bem como do livro, se passa num
subúrbio de Estocolmo, Suécia, portanto essa primeira adaptação é muito mais
fiel do que o remake. Aliás, o roteiro é escrito pelo próprio autor do livro, o
que lhe confere o máximo de proximidade com o texto do romance.
Dirigido por Tomas Alfredson, Deixa ela entrar foi
aclamado pela crítica especializada e rapidamente ganhou status de produção
cult, o que, de fato, é um reconhecimento muito merecido. É um filme impactante
não apenas pela abordagem original dada ao vampirismo, mas principalmente pela
forma como trata de temas perturbadores, como bullying e pedofilia numa trama
que apesar de protagonizada por crianças, passa longe de ser infantil ou
superficial.
A história de Deixa ela entrar, contada de maneira
crua, acompanha Oskar (Kåre
Hedebrant), um garoto de 12 anos constantemente atormentado por práticas de
bullying cometidas por um grupo de garotos mais velhos (e aqui o bullying é
nível IT, de Stephen King). Oskar acaba conhecendo Eli (Lina Leandersson), uma
menina pálida e solitária que se muda para a vizinhança em companhia de um
senhor idoso que supostamente é pai dela. Quase simultaneamente uma série de
assassinatos bizarros passa a acontecer nas redondezas e as vítimas têm o
sangue completamente drenado.
Na verdade, Eli é um menino que foi sexualmente mutilado
há séculos, ficando com aspecto feminino. No livro é detalhado o ritual de
castração a que ele é submetido, mas o diretor Alfredson desistiu de incluir
essa cena no filme, o que pode dar ao espectador a impressão de que ele
preferiu apresentar Eli como uma menina. Contudo, há uma cena de nudez no filme
que se observada com atenção (pois é rápida e não gratuita) deixa evidente que
Eli está “incompleta”.
Visualmente, Deixa ela entrar é um filme impecável, com
um estilo limpo e cru, que não precisa de CG em doses cavalares para impressionar, como
ocorre nas produções americanas (inclusive no remake que, apesar de
razoavelmente bom, tem ares de blockbuster). O filme de Alfredson é mais focado
no drama psicológico e na construção da atmosfera gelada, resultando numa
história que sabe exatamente onde e quando fazer o sangue jorrar, sem pressa
nem mau gosto.
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