Desenvolvida por Julie Plec e Kevin Williamson (roteirista da
franquia Pânico), The Vampire Diaries foi ao ar no auge do modismo de
Crepúsculo e, seguindo a cartilha das obras de Stephenie Meyer, esta série
possui o mesmo apelo ao universo adolescente, além de vários outros pontos em
comum. Temos aqui vampiros que não brilham no sol, mas que também são diurnos;
há o triângulo amoroso da moda (menina boazinha dividida entre o moço
politicamente correto e o bad boy);
uma protagonista que passa grande parte do programa com a vulnerabilidade de
ser humana, estando o tempo todo em perigo, o que funciona como pretexto para
que precise ser salva constantemente pelos “vampiros-heróis”. Convenientemente,
tal como em Crepúsculo, essa protagonista tem algo de especial, uma espécie de
compensação que justifique sua importância na série e a consequente perseguição
que ela sofre pela “elite” dos vampiros; as motivações e os contextos são
diferentes, mas a dinâmica é a mesma.
Fãs mais devotados à produção podem argumentar que, se alguém
segue uma fórmula, é Crepúsculo, já que The Vampire Diaries é baseada numa
série de livros que começou a ser lançada no início dos anos 90, ou seja, mais
de uma década antes de Crepúsculo. Contudo, tal afirmação é apenas parcialmente
justificável, pois quem conhece os livros de Lisa Jane Smith sabe que a versão
televisiva adota pouquíssimos elementos das obras, preferindo seguir o caminho
mais simples adotado por Meyer. Só para citar um exemplo presente no primeiro
volume literário (publicado no Brasil como Diários do vampiro: O despertar),
a protagonista Elena é loira, arrogante e fútil, mais preocupada em manter seu
status de “rainha da escola” do que qualquer outra coisa; totalmente o oposto
da Elena da série, que se tornou a típica donzela altruísta, frágil e chorona
(nos moldes da Bella). Nos extras dos
DVDs da primeira temporada um dos produtores da série inclusive menciona essa
necessidade que eles tiveram de alterar a representação da Elena, para que o
público “gostasse” dela. A série também se afasta dos livros ao mudar
inexplicavelmente nomes de lugares e pessoas (no livro, a cidade onde se passa
a história chama-se Fell’s Church, enquanto na série é Mystic Falls; a família
Smallwood do livro é Lockwood na série; a tia Judith da Elena no livro é Jenna
na série). Também há vários cortes e alterações nas relações de parentesco e
afinidade dos personagens, como o fato de que a Elena do livro tem uma irmã
criança, enquanto na série ela tem um irmão adolescente problemático quase da
idade dela.
Dito isso,
The Vampire Diaries acompanha o cotidiano da já
mencionada cidade fictícia de Mystic Falls, na qual misteriosos eventos passam
a acontecer após a chegada (na verdade, retorno) dos irmãos Salvatore. Eles são
vampiros de personalidades opostas, unidos por um mesmo amor, trágico e imortal
do passado. Stefan (Paul Wesley) é o irmão “bom”, que sofre a maldição de ser
um assassino por natureza e martiriza-se com o drama existencial de já ter sido
o “Estripador”; em contrapartida, Damon (Ian Somerhalder) é o irmão “mau”, que
não vê problema em espalhar morte e diverte-se com sua condição tal como os
vampiros de
Os garotos perdidos e
Quando chega a escuridão – aliás, esses dois
filmes são citados na primeira temporada. Sendo tão diferentes, Stefan e Damon
se odeiam e o único elo entre eles é Katherine, a criadora que converteu ambos
em vampiros há mais de 160 anos. Depois da suposta morte de Katherine, a quem
os Salvatore amavam, eles se afastam, guardando ressentimentos até o momento
presente, quando conhecem a estudante Elena (Nina Dobrev). Os dois se apaixonam
por ela, especialmente devido ao fato de que Elena é fisicamente idêntica a
Katherine. Posteriormente é revelado que tal semelhança não é um acaso: Elena
é, na verdade, uma
doppelgänger (uma espécie de duplicata mística) de Katherine.
Isso não é nenhuma discrepância ao universo da série, que apresenta uma grande
coleção de seres sobrenaturais, desde os mais comuns, como bruxas e lobisomens,
até os mais inusitados, como sereias e o próprio diabo, apresentados ao longo
das temporadas.
A série teve 8 temporadas e até a 5ª girava em torno da relação
triangular Elena-Stefan-Damon, bem como as constantes ameaças sobrenaturais que
rondam a cidade; a partir da 6ª, o programa passou a seguir um caminho tortuoso, dando mais espaço a personagens que até então ficavam restritos a
coadjuvantes pouco desenvolvidos.
A maioria dos vampiros dessa série sofre a inconveniência da luz
solar, mas alguns deles burlam a regra ao utilizar amuletos forjados por
bruxas; outros são imunes devido ao privilégio de fazer parte da família
Original (aquela que, como o nome evidencia, originou a espécie). Grande parte
da mitologia foi descartada: alho, crucifixos, água benta, dormir em caixões,
reflexo em espelhos, tudo isso foi desconsiderado e até a dieta exclusiva de
sangue foi reformulada (sangue é essencial, mas eles também podem comer comida “normal”
e tomar bebidas alcoólicas à vontade). Em compensação, eles podem ser mortos
com a clássica estaca e têm uma sensibilidade e fraqueza semelhante à que os
vampiros de
True Blood (
comentada AQUI) têm por prata, mas não por esse metal e sim pela planta
chamada verbena.
Encerrando com uma opinião pessoal, achei
The Vampire Diaries uma
série interessante até a 4ª temporada, mas deixei de levá-la a sério depois
disso, porque, a meu ver, ela cometeu os mesmos erros que
True Blood nas
últimas temporadas: dissolveu a trama principal, tomou rumos duvidosos e
exagerou nas ramificações de tramas e personagens secundários sem importância. Contudo,
isso não parece ter desanimado os fãs; tanto é que o programa ganhou dois
spin-offs:
The Originals, lançada em 2013, e
Legacies, atualmente em produção.