Primeira adaptação do livro A hora do vampiro, de Stephen King
(mais detalhes AQUI), esta minissérie foi dirigida por Tobe Hooper (cineasta responsável por
clássicos do terror como O massacre da serra elétrica e Poltergeist). Posteriormente,
foi editada e relançada em forma de um longo telefilme.
Curiosamente, mesmo sendo tão extensa, essa produção simplificou,
modificou e cortou muitos personagens e eventos da história, o que, a meu ver,
tornou a experiência de assistir a ela bastante cansativa até mais ou menos a
metade. Isso aconteceu porque o roteiro se concentra basicamente no personagem Ben
Mears (David Soul) e sua ligação com a mansão Marsten, deixando de lado a grande riqueza
de subtramas que poderiam ser exploradas e entrelaçadas, como acontece no
livro. Se se tratasse de um filme de até
duas horas, essa simplificação excessiva poderia ser relevada, mas estamos
falando de uma obra com 3 horas de duração, o que torna difícil defender essa
preguiça do roteiro.
Entretanto, apesar de esse projeto de Hooper deixar muito a
desejar como adaptação, ele tem alguns méritos se analisado como uma produção
“original”, ou seja, sem que fiquemos fazendo comparações com o livro. O filme
se arrasta muito (com atuações pouco louváveis) até que o clima de apreensão e
horror se torne palpável, mas quando isso acontece temos um vislumbre de por
que o diretor carrega fama de um dos mestres do gênero. A concepção dos
vampiros flutuando na névoa e aparecendo nas janelas é o que há de mais
memorável, na minha opinião. A maquiagem dos vampiros, com olhos amarelados,
palidez exagerada e caninos longos pode parecer tosca hoje, mas certamente
cumpre bem sua função para a época.
Falando nos vampiros, Hooper inspirou-se claramente no Nosferatu de Murnau para a concepção de seu Barlow. Quem já leu o livro de King, sabe que o “Mestre”
é fisicamente semelhante ao Drácula de Bram Stoker, mas neste filme ele está com
a aparência grotesca do conde Orlok: careca, com orelhas pontudas, unhas
compridas, dentes incisivos longos e tortos. Como diferencial, ele tem a pele
bizarramente arroxeada. Outra característica notável é que nesta adaptação ele
não fala (algo compreensível, pois seria difícil Reggie Nalder falar com aquela
dentadura medonha). Para contornar essa “deficiência”, nos momentos em que ele
aparece e diálogos são necessários, ele conta com Straker
(James Mason) como intérprete.
De um modo geral, este Os vampiros de Salem vale a conferida, mas está longe de ser uma
das melhores adaptações de Stephen King; além de ter muitas restrições em
relação à violência e ao conteúdo impactante do livro, por se tratar de uma
versão para TV, ele é muito novelesco e o estilo dos anos 70 não lhe caiu muito bem. Se tivesse
sido um filme para cinema, sem o cabresto da censura televisiva da época, acredito que o diretor poderia ter mais liberdade
para ousar e torná-lo tão memorável quanto a adaptação de Carrie, a estranha,
de Brian De Palma, também dos anos 70, mas que consegue ser infinitamente
superior.
***
Lançada originalmente como uma minissérie em duas partes, A Mansão
Marsten é outra adaptação do livro A hora do vampiro, também convertida para um
filme de 3 horas. O título é uma referência à primeira parte do romance e
designa uma casa que abriga forças malignas, situada na cidade onde se passa a
história. Apesar de tão longa quanto a adaptação de Tobe Hooper, considero esta
versão “recente” muito superior e bem menos cansativa que a primeira, tendo um bom elenco e preservando
muito mais aspectos do roteiro do livro do que a dos anos 70.
Dirigido por Mikael Salomon, este filme apresenta um Ben Mears
(Rob Lowe) bem mais aceitável, jovem e carismático do que David Soul; outro
acerto foi dar a Rutger Hauer o papel de Barlow, pois, na minha opinião, ele ficou
bem mais condizente do que aquele Nosferatu roxo da primeira versão. Uma curiosidade é que Hauer já foi "vampiro-líder" em outra produção: Buffy: A caça-vampiros, dos anos 90. Outros
nomes interessantes do elenco incluem Donald Sutherland como Straker (fisicamente
não se parece em nada com o do livro, mas ficou bem melhor do que James Mason)
e James Cromwell como o padre Callahan.
Outro ponto a favor desta versão é que ela manteve algumas
subtramas do livro e deu espaço para personagens menores, como o motorista de
ônibus rabugento e sua implicância com as crianças; o corcunda amargurado com
sua fixação por uma “lolita” que o despreza; a jovem mãe relapsa que espanca
seu bebê e a esposa infiel flagrada no ato (neste último caso, as duas tramas
foram fundidas). Além disso, deu o destaque merecido ao passado de Ben e sua
aventura traumática na Mansão, através de flashbacks de sua infância, mudando
alguns fatores, mas entregando o mesmo produto.
Quanto à abordagem do vampirismo, também não acho que fique
devendo à outra adaptação. Os vampiros aqui são pálidos, têm olhos
esbranquiçados, caninos longos e algumas habilidades, como flutuar e
hipnotizar. Também há as clássicas cenas em que eles aparecem levitando nas
névoa, arranhando as janelas das suas vítimas em potencial.
Por fim, é necessário lembrar que nesta adaptação há cenas
consideravelmente sangrentas; pode soar estranho ter que mencionar algo tão
óbvio em se tratando de um filme sobre vampiros, mas como na primeira versão a
violência e a presença de sangue eram praticamente inexistentes, achei
importante frisar esse aspecto.
Recomendo (principalmente a quem já leu o livro) que se assista às
duas versões, mas se tiver que escolher só uma, é esta que eu indico.
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