Lançado no final dos anos 90, o primeiro filme de
Blade é mais uma produção memorável daquela década riquíssima para o cinema
vampiresco (só para citar alguns clássicos da época: Drácula de Bram Stoker, Entrevista com o vampiro e Um drink no inferno). O principal
diferencial de Blade em relação às outras produções é que dessa vez temos uma
abordagem mais voltada para a ação, nos moldes dos filmes de super-heróis. De
fato, Blade é um personagem dos quadrinhos Marvel, criado por Marv Wolfman e
Gene Colan. Caracterizado como um vampiro negro dotado de habilidades precisas
no manejo de armas de fogo, lâminas (de onde lhe veio o codinome) e artes
marciais, Blade (Wesley Snipes) é uma espécie de (anti)herói que dedica sua
vida a exterminar os vampiros. Na mitologia do filme, os
vampiros são imunes a “amenidades” como símbolos religiosos, de modo que, para
destruí-los, os únicos meios são através da violência e armamentos que
contenham prata, alho ou luz ultravioleta.
Tendo sido transformado em vampiro antes de nascer
(sua mãe foi atacada por um vampiro quando já estava grávida), Blade é apenas
meio-vampiro, possuindo a força, rapidez e resistência dos vampiros, mas sendo
imune à luz solar – razão pela qual ele é conhecido como Daywalker, “O Que
Caminha de Dia”. Infelizmente para ele, Blade herdou a sede de sangue dos
vampiros, sendo necessário que tome regularmente um soro inibidor preparado por
Whistler (Kris Kristofferson), seu mentor e figura quase paterna.
No universo de Blade existem os vampiros puros (que
já nasceram assim, isto é, pertencem a uma linhagem) e os “não-puros”, ou seja,
humanos que adquiriram essa condição através de mordida. É nesse último grupo
que se encontra Deacon Frost (Stephen Dorff), o vilão deste filme. Humilhado
por não ter ascendência pura, Frost planeja vingar-se da elite vampírica e
adquirir poder absoluto através de um ritual profético no qual incorporará um
deus vampiro ancestral invencível. A missão de Blade é impedir que Frost
realize seu objetivo e provoque um apocalipse vampiro sem precedentes.
De modo geral, Blade é um ótimo filme de ação com
vampiros, com boas atuações – especialmente a de Snipes –, roteiro consistente
e efeitos visuais muito bons (exceto o dos vampiros “inchando” e explodindo ao
levar injeções de anticoagulante: aquilo dá vergonha alheia). Mas ainda assim Stephen Norrington se saiu melhor na direção do que David S. Goyer no terceiro filme.
A sequência de Blade foi dirigida por um Guillermo
Del Toro já conhecido no meio hollywoodiano, e ele não decepciona
aqui; na verdade, Blade 2: O Caçador de Vampiros é o melhor filme da trilogia. Os eventos se passam
dois anos depois da trama anterior. Uma nova raça de vampiros mutantes surgiu,
resultado de uma espécie de pandemia viral que torna os infectados quase
invulneráveis, a não ser pela luz solar. Esses novos vampiros são muito mais
primitivos e selvagens e, além de serem incontroláveis, representam perigo para
os vampiros “normais”, pois se alimentam também deles, infectando-os. Na
urgência de conter essa praga antes que ela dizime seu “povo”, o Lorde
Damaskinos (Thomas Kretschmann) propõe uma trégua/aliança com Blade. Porém,
como nosso herói badass bem tem
motivos para desconfiar, Damaskinos e sua turma não estão sendo totalmente
honestos.
As cenas de ação e os efeitos visuais desse filme são
eletrizantes, das coreografias das lutas aos espetáculos pirotécnicos, mas o
mais interessante, sem dúvida, é a concepção dos “reapers” (como são chamados
os vampiros mutantes). Eles lembram bastante os monstros criados por Del Toro e
Chuck Hogan posteriormente no universo de The Strain: além de serem carecas e muito
pálidos, suas bocas se abrem anormalmente com uma fenda que vai até o queixo, e
eles infectam as vítimas através da língua, que possui uma espécie de ferrão.
Se o segundo filme foi melhor do que o primeiro, era
de se esperar que o terceiro pelo menos mantivesse o nível do antecessor...
coisa que passou longe de acontecer. É estranho que David S. Goyer, roteirista
dos filmes anteriores, tenha errado tanto ao assumir o roteiro e a direção
deste capítulo final da trilogia.
A ideia central de Blade Trinity até que é aceitável: um grupo de
vampiros decide ressuscitar ninguém menos que Drácula, o vampiro original, com
o objetivo de descobrir seu segredo para ser invencível e imune à luz solar, e,
de quebra, fazer com que ele destrua Blade. Em contrapartida, um grupo de
caçadores de vampiros que se autodenomina “Nightstalkers” está trabalhando no
desenvolvimento de uma “cura” viral para o vampirismo, precisando da ajuda de
Blade para infectar Drácula. Até aí, o filme vai bem; o problema é que a
execução dessa ideia é péssima, desde a escolha de Dominic Purcell para o papel
de Drácula (exceto quando ele está na sua forma monstruosa, parece que ele
acabou de fazer um show de axé) até o roteiro cheio de situações forçadas e mal
resolvidas levando a um final brega. Talvez o pior recurso desse filme tenha
sido introduzir humor desnecessariamente; aliás, o personagem de Ryan Reynolds
está o tempo todo fazendo piada, como se já estivesse ensaiando para ser
Deadpool. Enfim, é um filme bem dispensável, válido apenas para
dar uma ideia de fechamento à trilogia.