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[LIVRO] A ÚLTIMA VAMPIRA (The Last Vampire, 2001)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019.
A última vampira é a sequência do romance neogótico Fome de Viver (The Hunger), publicado e adaptado para o cinema na década de 1980 (sobre o filme, clique AQUI). Diferindo do final do filme, no qual a protagonista e milenar vampira Miriam Blaylock morre (numa cena memorável), o livro tem um desfecho mais “otimista” para a personagem, possibilitando seu retorno nesta continuação.
Publicado vinte anos depois de Fome de viver, a trama de A última vampira também se passa duas décadas depois dos eventos daquele livro, começando com Miriam viajando à Ásia (especificamente, a Bangcoc) para participar do Conclave, uma espécie de conferência centenária na qual os guardadores (como são chamados os vampiros) se reúnem para realizar suas cerimônias secretas e discutir o futuro do seu “rebanho”, isto é, os seres humanos.
Entretanto, ao chegar ao local da reunião, ela descobre que um experiente caçador de vampiros financiado pela CIA orquestrou a destruição do “covil” asiático e de todos os guardadores que ali se encontravam. Miriam parte então para a França, a fim de alertar os europeus do risco que a espécie está correndo, com um exterminador que agora conhece as fraquezas e segredos deles. Em Paris, uma nova carnificina ocorre, da qual Miriam escapa por pouco, conseguindo retornar à América, mas ainda com o caçador – Paul Ward – no seu encalço. À medida que a trama avança, percebe-se que os destinos de Miriam e Paul estão fatalmente ligados por uma circunstância bizarra cujas consequências atingirão ambos de forma imprevisível – pelo menos imprevisível para eles.
          Se, devido à abordagem elegante, sombria e acentuadamente homoerótica, Fome de viver tinha certas similaridades com as obras de Anne Rice, neste segundo livro tais semelhanças são ainda mais perceptíveis, às vezes parecendo uma “versão lésbica” de Entrevista com o Vampiro. O trio de vampiras que protagoniza o livro tem uma curiosa correspondência com o trio central do primeiro volume das Crônicas Vampirescas: Miriam, poderosa e influente, lembra Lestat; Sarah, a amante de Miriam, lembra muito Louis, pois sofre de uma eterna crise de consciência por ter que tirar vidas humanas para manter sua existência amaldiçoada; Leonore, por sua vez, a nova cria de Miriam, é fútil, impetuosa e inconsequente como Cláudia.
         Entretanto, essa semelhança com Rice não desabona o livro de Strieber de sua própria originalidade, pois aqui o autor (sim, ao contrário do que muita gente pensa, Whitley é um homem) desenvolve conceitos muito interessantes para a sua mitologia vampírica, desde suas origens “alienígenas” até a presença e influência dos vampiros nos grandes impérios históricos.
          Aqui os vampiros são uma espécie distinta e muito anterior à humanidade, sendo que essa “condição” é hereditária e, portanto, não transmissível através da mordida ou da troca de sangue, como é tradicionalmente representado na literatura e no cinema. Em relação à troca de sangue, o que acontece é que quando um vampiro o dá a um ser humano, este passa a ter a mesma sede de sangue e tem sua vida prolongada em séculos; porém, há um alto preço a pagar por essa dádiva – que mais tarde revela-se uma maldição: depois de levar uma vida excepcionalmente longa, o prazo de validade do humano “infectado” acaba e ele se deteriora transformando-se em um “cadáver vivo”, incapaz de morrer. Ao longo dos séculos, Miriam tem inúmeros amantes, aos quais ela ludibria dando-lhes seu sangue para prolongar-lhes a vida; quando eles se tornam essas múmias, ela os tranca em caixões que guarda no sótão por toda a eternidade.
          Um outro aspecto interessante na mitologia de Strieber é o sexo vampírico.  Diferente das obras de Anne Rice, nas quais o erotismo dos vampiros transcende a sexualidade humana, em A última vampira a abordagem sexual é mais carnal e explícita, como acontece nos livros de Charlaine Harris protagonizados por Sookie Stackhouse e, principalmente, em sua adaptação televisiva, True Blood. Os vampiros de Strieber podem se reproduzir entre si, e essa é a única forma de gerar novos e “verdadeiros” vampiros; Miriam deseja procriar com sua espécie, mas também gosta de se envolver sexualmente com os humanos – homens ou mulheres – simplesmente pelo prazer que obtém dessas relações.
          Procurando opiniões de leitores que conheçam os dois livros, é comum encontrar reclamações de quem afirme que esta sequência não tem a sutileza do livro original – no qual a própria palavra “vampiro” nem era mencionada. De fato, A última vampira segue uma abordagem mais explícita e menos sugestiva. A ação (sexo e violência) recebe mais destaque do que a atmosfera da história, mas não posso dizer que isso me desagradou; prefiro pensar que o autor mudou a perspectiva para adaptar-se à nova era, onde a tendência é o apelo gráfico. O que me frustrou foi descobrir, tarde demais, que este livro tem mais uma sequência: Lilith’s Dream, não publicado no Brasil.

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