Se, no final da primeira década de
2000, a combinação de universo adolescente e vampirismo remete a produções no
naipe de Crepúsculo, quase vinte anos antes essa abordagem teen já era
utilizada no cinema oitentista através de clássicos como Quando chega a escuridão (Near dark,1987), Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987) e este A Hora do Espanto (Fright Night, 1985). Contudo,
nesses filmes a imagem do vampiro ainda não tinha sido diluída nos ideais
nobres e românticos que acabaram por transformá-los em super-heróis
atormentados por dramas existenciais e um amor fatalista por seres humanos (“o
leão se apaixonou pelo cordeiro”, e por aí vai). Apesar do tom simplista e bem-humorado desses
filmes, os vampiros ainda são retratados como os monstros clássicos cujos
interesses em seres humanos se restringem a seduzir e abater.
Dirigido
por Tom Holland e com Chris Sarandon no papel do sedutor vampiro Jerry
Dandridge (parceria que se repetiria 3 anos depois com Brinquedo assassino), A
Hora do Espanto é um dos melhores e mais notáveis filmes de vampiro
da safra dos anos 80. Misturando terror e humor adolescente com muita
eficiência, este filme traz toda a nostalgia dos clássicos trash. Na trama,
bastante simples, Charley (William Ragsdale) é um jovem viciado em filmes e
programas de terror que passa a suspeitar que o seu novo vizinho é um vampiro.
Essa suspeita é reforçada por estranhos eventos que passam a acontecer na
vizinhança depois da chegada de Jerry: desaparecimentos, gritos no meio da
noite, visitas noturnas suspeitas na casa de Jerry, etc. Cada vez mais
convencido de que Jerry é um monstro bebedor de sangue, Charley tenta alertar
as autoridades, sem resultado. Ele acaba buscando ajuda de Peter Vincent (Roddy McDowall), apresentador do programa de TV Fright Night e suposto especialista em
caçar vampiros. Entretanto, nem o
próprio Peter Vincent acredita em Charley, que por sua vez percebe que o grande
matador de vampiros não passa de um velho cético e covarde. O que já era ruim
vai piorando à medida que Jerry deixa transparecer suas intenções malignas,
colocando Charlie e as pessoas que ele ama em perigo. Além de se “infiltrar” na
casa dele, Jerry passa a exercer um forte jogo de sedução sobre Amy (namorada
de Charley) semelhante ao que Drácula faria com Mina em Drácula de Bram Stoker,
alguns anos depois.
Apesar
de não possuir grandes inovações em termos de roteiro, A Hora do Espanto é um
filme que cumpre sua função de divertir e entreter e chama a atenção pela sua
perspectiva “artística”: da fotografia à trilha sonora, da maquiagem aos
efeitos visuais (ainda que datados), ele não decepciona o espectador
familiarizado com esse tipo de produção. Destaque para a criatividade dos
momentos grotescos: a “destransformação” de um lobisomem fatalmente ferido, a
maquiagem bizarra de Amy vampira (sobretudo aquela boca), o derretimento de um
vampiro com direito a muita gosma, e as várias caras e bocas de Jerry, além de
sua versão “morcego mutante de plástico”, que aparece no último ato enfrentando
os protagonistas.

O filme de Gillespie não tem a espontaneidade e o
roteiro despretensioso e engraçado da película dos anos 80, mas também não é um
filme sem identidade. Percebe-se a preocupação do roteiro e da direção em, de
fato, atualizar a história e trazer para os dias atuais a divertida situação de
um adolescente que descobre que o seu novo vizinho é um vampiro. Charley
(Yelchin), o protagonista, a princípio não acredita nisso, mas, quando
estranhos acontecimentos se desenrolam nas redondezas, ele percebe a dimensão
do perigo e tenta encontrar uma forma de eliminar o monstro, ao lado de sua
namorada e sua mãe, ambas também incrédulas sobre essa história de vampiros.
É interessante que o remake não tenha alterado
as características de seus vampiros, de modo que aqui a essência e a mitologia
básicas são preservadas de forma exemplar; vampiros queimam ao sol, não têm
reflexos (nem aparecem em câmeras!), temem crucifixos e alho e, o principal,
são seres sensuais. Colin Farrell está muito à vontade em seu papel de vilão,
embora seu vampiro seja mais canastrão do que charmoso. E, falando em
canastrice, há que se citar Peter Vincent, o personagem de David Tennant, que
vem a ser o mais interessante e engraçado do filme; ele é um tipo de
ilusionista fajuto e covarde que apresenta espetáculos e um programa de
televisão em que se autodenomina um especialista em vampiros. Ele será o
auxiliar de Charley, mesmo que a contragosto, em sua missão de exterminar o
vampiro Jerry, tarefa que se revela bem mais difícil do que se imagina. Mas, o
que se pode esperar de um “mestre” em caçar vampiros que compra suas armas pelo
Ebay e cujo diploma foi baixado da internet?
Contudo, em alguns aspectos, o novo A Hora do
Espanto derrapa quando devia agradar mais o público; uma de suas maiores
falhas é o excesso de CG nas cenas de violência, incluindo as mortes
exageradamente pirotécnicas dos vampiros. O sangue também é frustrante para os
amantes do gore; pouco se vê a boa e velha tinta vermelha ou um xarope
qualquer, pois até aqui prevalece a computação gráfica com seu sangue
artificial em pixels.
Então, no fim das contas, A Hora do Espanto não
é, decididamente, um filme imperdível nem impecável; pelo contrário, contém
algumas falhas e um roteiro apenas sofrível. Apesar disso, este remake tem uma
aprovação de mais de 70% no Rotten Tomatoes, o que é uma classificação
consideravelmente satisfatória, tendo em vista as críticas mistas que recebeu.
O que eu considero inteiramente descartável, a ponto de incluir na lista 10
filmes de vampiro para morrer antes de ver, é A Hora do Espanto 2,
não a ótima sequência do original de 1985, mas o filme de 2013, que é
absurdamente um remake deste remake de 2011, mudando apenas a ambientação da
história e o sexo e a grafia do nome do vampiro: assim, o Jerry passa
a ser a Gerry. Lamentável.
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