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[FILME] INFECTADO (Afflicted, 2013)

terça-feira, 25 de setembro de 2018.

Dois amigos decidem fazer um longo tour ao redor do mundo, visitando pontos turísticos dos seis continentes, a fim de registrar e compartilhar tudo com os seguidores do seu canal na internet. Entretanto, essa não é a principal motivação da dupla; um deles – Derek – foi diagnosticado com uma grave e imprevisível doença, uma espécie de aneurisma, que pode fulminá-lo de uma hora para outra. Assim, essa viagem pode significar a despedida dele para a vida.
Depois de passar pela Espanha, Derek Lee e Clif Prowse (verdadeiros nomes dos atores, que também são os roteiristas e diretores) chegam a Paris, onde, durante uma balada, Derek conhece uma moça com quem espera “se dar bem”. As coisas não saem como o esperado e Clif encontra o amigo machucado e com estranhas feridas. A princípio eles não dão muita atenção ao ocorrido e continuam a viagem, mas com o passar dos dias, outros problemas acometem Derek: ele fica sonolento, intolerante a comida e extremamente sensível à luz solar, além de passar por uma gradual transformação física.
          Infectado é um filme do tipo found footage, estilo do qual eu não sou particularmente fã; já cheguei, inclusive, a citar um outro filme nesse molde, O assassino das sombras, presente na lista 10 filmes de vampiro para morrer antes de ver. Contudo, diferente daquele filme, que é basicamente um cruzamento pavoroso (no pior sentido) de A bruxa de Blair e O bebê de Rosemary, este Infectado  é bem mais plausível dentro do que se propõe. Ao invés de estar investigando relatos sobrenaturais, os protagonistas aqui se deparam inesperadamente com o vampirismo, duvidando, no início, que seja isso que está acontecendo com Derek; há até um momento em que gozam das habilidades adicionais que ele não adquiriu, como o poder de se transformar em névoa, comandar animais e precisar de um convite para entrar nas casas.
          O conceito de vampirismo apresentado neste filme combina elementos que lembram Eu sou a lenda (o filme com Will Smith) e até The Strain, na representação e nas características vampíricas. Não há nada do glamour, sensualidade ou nobreza dos vampiros modernos ou dos clássicos aristocráticos. Aqui, o vampiro fica selvagem e incontrolável quando passa muito tempo sem se alimentar, não possui presas, têm velocidade e força sobre-humanas, consegue escalar e dar grandes saltos com extrema habilidade. Além disso, seu organismo só aceita sangue humano; sangue de animais ou qualquer tipo de comida são violentamente expelidos em forma de vômito. 
          Um conceito muito interessante, abordado neste filme foi a questão da imortalidade: o vampirismo é, de fato, uma maldição interminável e o “infectado” não pode morrer. Derek descobre isso depois de cometer um ato bárbaro e tentar o suicídio, devido ao remorso (pois ele conserva a consciência de seus atos depois de realizados). Mais adiante ele percebe que a estaca no coração também é um mito. A única fraqueza verdadeira é a luz do sol, e ainda assim ela não provoca aquele “efeito tocha” tão conhecido. Causa, sim, uma dor insuportável, acompanhada de queimaduras gravíssimas (destaque para os ótimos efeitos práticos).
          Infectado foi muito bem aceito pela crítica, tendo uma boa média no Rotten Tomatoes e chegando, inclusive, a ganhar alguns prêmios importantes em festivais dedicados ao gênero. Vale a conferida.


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[LIVRO] O SANGUE DO CORDEIRO (Blood of the Lamb, 2015*)

quarta-feira, 19 de setembro de 2018.

* Publicação no Brasil

O título do livro de Sam Cabot – na verdade, pseudônimo da parceria Carlos Dews e S.J. Rozan – sugere tratar-se de uma obra com aspectos religiosos e, talvez, sobrenaturais. De fato, é um thriller que une elementos referentes a religião, especificamente ao catolicismo, com um toque sobrenatural proporcionado pela presença de vampiros. Mas, não vampiros no sentido clássico e tradicional como representados no cinema e na literatura antes da geração Crepúsculo.  Os vampiros de O sangue do cordeiro pouco têm de sobrenatural, a não ser a imortalidade, rapidez, resistência e força sobre-humanas, fascinação sobre os mortais, além de, claro, a sede de sangue humano. O restante do glamour e poder conferido aos sanguessugas (como habilidade de se transformar em animais, voar e hipnotizar) foi suprimido pelos autores porque eles preferiram fazer uma abordagem mais humanizada e científica sobre o tema. Assim o vampirismo aqui é resultado de uma mutação causada por um micro-organismo que altera o DNA humano. Aliás, talvez para se dissociar das ideias fantasiosas a seu respeito, os vampiros nem são chamados assim; preferem o termo “noantri” ("nós outros"), enquanto se referem aos seres humanos mortais como “inalterados”.
          A trama se passa em Roma, principalmente no rione de Trastevere, mas também no Vaticano, locais que os protagonistas percorrem em busca de um documento secreto escondido há seis séculos que está prestes a vir à tona, e cujo conteúdo, se indevidamente revelado, pode abalar as bases da Igreja Católica e, consequentemente, do mundo noantri. A premissa lembra Dan Brown (a quem a obra é comparada na contracapa), particularmente o livro Anjos e demônios, mas enquanto lá a dupla de protagonistas é formada por uma cientista e um simbologista, aqui o par de heróis é ainda mais improvável: um padre e uma vampira, ambos historiadores. Mesmo pertencendo a “espécies” diferentes, eles precisam se unir na busca pela Concordata, pois sua divulgação será desastrosa tanto para os noantri quanto para os inalterados, levando a humanidade ao caos.
          Em meio a perseguições, trapaças e correria o padre Thomas e a vampira Livia seguem as pistas secretamente deixadas pelo noantri que roubou a Concordata da Biblioteca do Vaticano há mais de 150 anos e a escondeu em algum lugar de Roma. As pistas são poemas enigmáticos escondidos em igrejas, os quais apontam sistematicamente para a próxima.  Um ponto muito positivo deste livro é que ele possui dois mapas detalhados: um de Roma, destacando a Cidade do Vaticano, e outro especificamente de Trastevere, que é onde se encontra a maioria das igrejas, ruas e outros locais citados na obra. Isso facilita bastante para o leitor se situar enquanto acompanha o trajeto dos personagens. Outro bônus muito interessante é o posfácio da obra, o qual é formado por uma lista de noantri historicamente importantes; lista essa que possui nomes de escritores, músicos, políticos e personagens bíblicos, entre outras “celebridades”.
          Quanto ao titulo do livro, é explicado (ou melhor, subentendido) com uma revelação chocante feita já próximo ao final, envolvendo figuras proeminentes do Cristianismo; algo que poderia até deixar o Vaticano mais indignado do que ficou com O código Da Vinci, se não fosse pelo fato de que dessa vez estamos diante de seres que – feliz ou infelizmente – não existem. 

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[FILME] ENTREVISTA COM O VAMPIRO (Interview With the Vampire, 1994)

terça-feira, 11 de setembro de 2018.


Com roteiro escrito pela própria autora Anne Rice, Entrevista com o vampiro é uma das mais notáveis produções vampirescas lançadas no decorrer dos anos 90, ficando no mesmo patamar do clássico Drácula de Bram Stoker, de Coppola (comentado AQUI). Dirigido por Neil Jordan (que a autora ajudou a escolher por gostar de seu trabalho em A companhia dos lobos), o filme é uma adaptação do primeiro volume da longa série literária conhecida no Brasil como Crônicas Vampirescas.
Protagonizado por Brad Pitt, Tom Cruise e Antonio Banderas, além da então pequena Kirsten Dunst, o filme tem uma legião de fãs que aprovaram a adaptação, mas, inevitavelmente, também conta com um número significativo de leitores menos impressionáveis e mais exigentes da obra de Rice, os quais criticam a produção, em especial pela escolha dos atores. Isso porque Cruise, Banderas e até Dunst interpretam personagens muito mais jovens do que os atores aparentam; Banderas, principalmente, interpreta Armand, um vampiro descrito no livro como um adolescente ruivo. Particularmente, porém, achei a ideia de um Armand com aparência de adulto muito plausível neste filme, porque é mais fácil acreditar na mentira de que ele é o vampiro mais velho que existe (como ele afirma para Louis) aparentando ser mais velho do que Brad Pitt (que interpreta Louis) do que se escolhessem um ator adolescente. Não creio que Banderas pudesse permanecer sendo Armand se, hipoteticamente, os demais livros fossem adaptados para o cinema, mas como filme isolado ele se sai muito bem.
Quanto a Tom Cruise, a própria Rice inicialmente torceu o nariz para a escolha dele para viver Lestat, apelidado nas Crônicas de Príncipe Moleque, devido à sua pouca idade e temperamento inquieto. De fato, Cruise não corresponde à imagem concebida pela escritora para seu personagem mais querido, mas, a despeito disso, considero sua atuação impecável, tão marcante quanto Gary Oldman como Drácula. Cruise apresenta um Lestat hedonista, sensual, ambíguo e por vezes sarcástico que funciona em perfeita sintonia com a atuação mais emotiva de Pitt como o atormentado Louis. Não menos importante é a atuação arrebatadora de Kirsten Dunst como a voluntariosa Claudia, a pequena vampira “filha” de Louis e Lestat.
Em relação à trama, pouco há a ser falado que já não tenha sido abordado especificamente no texto sobre o livro Entrevista com o vampiro. Afora uma ou outra modificação na história original (como as circunstâncias que levaram o Louis humano à depressão e, posteriormente, a conhecer Lestat e a peregrinação de Louis pela Europa antes de chegar a Paris), o roteiro é bastante fiel à obra escrita, o que demonstra o respeito da autora pelos leitores e, mais que isso, o perfeccionismo dela. Juntamente com Jordan, ela procurou preservar o máximo possível dos elementos característicos do livro e do universo criado por ela, como o teor gótico da história e a sensualidade dos vampiros (nesse aspecto, de um tom perceptivelmente homoerótico).  Figurinos, fotografia e direção de arte são fatores que acentuam ainda mais o capricho da obra. Além disso, há ainda os ótimos efeitos especiais práticos, usados com inteligência e sem espalhafato, apenas nos momentos em que são realmente necessários – como na tentativa de assassinato de Lestat cometida por Cláudia. Felizmente, na década de 1990 o cinema ainda não tinha sido invadido pelo preguiçoso e tosco CGI de hoje. A cena que usa mais efeitos é o incêndio do Teatro dos Vampiros, e ainda assim não me pareceu exagerada ou falsa como acontece em qualquer “épico” atualmente. A moderação não deveria ser tão subestimada.

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[LIVRO] OS ANTIQUÁRIOS (Los Anticuarios, 2010*)

terça-feira, 4 de setembro de 2018.

* Ano da publicação original

Vampiros são, certamente, os seres sobrenaturais mais populares da literatura fantástica; entretanto, na maioria dos livros protagonizados por eles, as histórias se passam na Europa ou na América do Norte, que geralmente são as terras natais dos próprios autores. Os antiquários, de Pablo De Santis também segue essa ideia de ser ambientado na mesma terra de seu autor, mas é inovador pela peculiaridade de se passar na América Latina, mais especificamente na Argentina.
Na história, o jovem Santiago Lebrón começa a trabalhar na seção de esoterismo de um jornal em Buenos Aires, na década de 1950. A princípio ele se mostra inseguro, pois é cético em relação ao sobrenatural e está naquele trabalho apenas porque o redator anterior morreu recentemente. Pouco tempo depois, Santiago toma conhecimento do Ministério do Oculto, órgão secreto responsável justamente por investigar e apurar a veracidade de fatos e relatos envolvendo o sobrenatural. Recrutado pelo Ministério do Oculto, Santiago acompanha algumas reuniões e descobre o interesse de seus membros – em geral, acadêmicos – pelos antiquários, pessoas aparentemente comuns, mas que são imunes à passagem do tempo e padecem de uma constante ânsia por sangue, a qual chamam de sede primordial.
A leitura de Os antiquários faz lembrar em muitos aspectos A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, pois também é uma obra metalinguística que homenageia o universo da literatura e o amor aos livros. Os antiquários também é narrado em 1ª pessoa por Lebrón, o qual lembra muito o protagonista de Zafón, Daniel Sempere. Como Sempere, Santiago passa a trabalhar numa livraria, depois de se unir aos antiquários. Ainda assim, dou predileção a este livro, porque, mesmo lidando com o sobrenatural, considero-o mais “pé no chão” e menos mirabolante do que o de Zafón, além de ser, evidentemente, muito mais breve e completo, sem a necessidade de sequências.
Os antiquários têm esse nome porque são seres melancólicos que pertencem ao passado, gostam de colecionar e trabalhar com objetos antigos e detestam mudanças, novidades e tecnologia, preferindo ficar escondidos e ignorados na sua quietude.
De Santis despojou os vampiros de todo glamour e de quase todas as características clássicas associadas a essas criaturas: os antiquários não têm caninos longos, não voam, não se transformam em morcegos ou névoa, não dormem em caixões, não têm velocidade ou força sobre-humana e não sabem hipnotizar. Quanto à luz solar, não causa neles o efeito fatal de “tocha humana”, mas provoca um grande mal-estar quando expostos diretamente, mistura de dor e náusea; a despeito disso, podem levar uma vida diurna relativamente normal. O único “superpoder” dos antiquários é o carmen, um truque mental no qual eles induzem as pessoas a vê-los transfigurados como pessoas já falecidas. Com uma abordagem similar à adotada em Fome de viver, de Whitley Strieber (comentado AQUI), o autor reduziu o vampirismo aos seus dois aspectos fundamentais: a imortalidade e a sede de sangue. Ainda assim, esses fatores são “contornáveis” e parciais: os antiquários são imortais apenas no sentido de que não envelhecem e não adoecem, mas são suscetíveis à morte, quando provocada através de violência; quanto à necessidade de sangue, ela pode ser controlada com o elixir, substância consumida por eles, e que tem a propriedade de suprimir temporariamente seus impulsos assassinos. Contudo, nem sempre o elixir é suficiente ou está disponível, o que faz com que os antiquários sucumbam à sede primordial. Aliás, em outros dois pontos Os antiquários lembra Fome de viver: em ambos os livros a palavra “vampiro” não é empregada em nenhum momento; além disso, como não possuem presas, eles extraem o sangue de forma “artificial” (a imagem da capa é autoexplicativa).
O livro guarda ainda certa semelhança com O código Da Vinci: na trama, há rumores sobre a existência de um livro que guarda um conhecimento muito cobiçado pelos antiquários – sobretudo por Santiago, que desenvolve uma obsessão por ele: o Ars Amandi. Entretanto, como o críptex do best-seller de Dan Brown, esse livro só pode ser acessado pelas pessoas “certas”, que consigam driblar seu intrincado mecanismo de segurança sem destruí-lo.
De modo geral, a leitura de Os antiquários é fascinante: com uma atmosfera noir onde se unem drama e aventura, Pablo De Santis apresenta vampiros extremamente humanizados, sem o pedestal de monstros que pertenceu a eles durante séculos de literatura e folclore. 





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[QUADRINHOS] INTERVIEW WITH THE VAMPIRE (1991 - 1994)

         Publicada pela Innovation Comics, Interview with the vampire foi a primeira transposição do romance homônimo de Anne Rice para out...