Esta série é creditada como baseada no filme
What we do in the shadows, de 2014, mas
não é um
remake ou versão estendida da obra original, como acontece na série
From dusk till dawn, que é baseada no
filme de Robert Rodriguez. Na verdade,
What we do in the shadows é uma releitura da temática e dos
conceitos do filme, mas traz uma história nova e independente que pode ser
vista sem vínculo com ele.
Criada por Jemaine Clement (que atuou e foi um dos
roteiristas do filme original), a série preserva a estrutura de
pseudodocumentário ao acompanhar o cotidiano de quatro vampiros que dividem a
mesma casa em Staten Island – um bairro nova-iorquino – nos dias atuais. Com
uso constante do humor negro, a série mostra as aventuras e, principalmente, os
problemas de ser vampiro em pleno século XXI. As “vidas” desses vampiros ficam
ainda mais complicadas com a chegada do Barão Afanas (Doug Jones), um poderoso vampiro
ancião que se hospeda na casa deles.
Os personagens de What we do in thed shadows satirizam
elementos clássicos das histórias de vampiro: (pan)sexualidade, reencarnação, criação
de “prole”, hierarquia vampírica, rivalidade com lobisomens, etc. Nesse quesito
a série expande o universo do filme, explorando os dramas de cada personagem.
Nandor (Kayvan Novak), que se considera o líder do
grupo, é uma paródia do vampiro guerreiro “histórico”, Vlad Tepes (que inspirou
o Drácula de Bram Stoker). No grupo ele também é o mais desajustado aos tempos
modernos, tendo problemas que vão desde a incompreensão da tecnologia até
aspectos burocráticos como obter cidadania americana. Por isso ele não abre mão
da ajuda de seu servo humano Guillermo (Harvey Guillén), cujo maior desejo é se
tornar um vampiro também.
Laszlo (Matt Berry) é uma paródia da pansexualidade vampírica.
No passado ele aproveitou seus dotes para fazer sucesso no mercado pornô
gótico, mas é casado com Nadja (Natasia Demetriou), a vampira que o transformou
e que faz parte do grupo agora. Nadja, por sua vez, encarna o viés sentimental
do vampirismo, sempre em busca de seu amante humano, morto há séculos, mas que
reencarna de tempos em tempos.
Por fim, há Colin Robinson (Mark Proksch), um vampiro
de energia: ele pode andar durante o dia e não tem presas e nem se alimenta de
sangue. Ele é basicamente um humano que suga a energia das pessoas – e de
outros vampiros – entediando-os com sua presença e conversa insuportavelmente
maçantes. Com exceção dele, os vampiros apresentados na série têm as
características genéricas e clássicas: podem se transformar em morcego,
levitar, têm intolerância a símbolos cristãos e à luz solar, dormem em caixões,
etc.
Repleta de referências culturais ao universo
vampírico, acredito que o ponto alto desta 1ª temporada seja o sétimo episódio,
que faz uma ótima homenagem a algumas das produções mais famosas do gênero, de
Blade a
True Blood. No mais, é uma série deliciosa de acompanhar; composta de
apenas 10 episódios com duração média de 20 minutos cada, é a melhor estreia do
ano para os amantes dos dentuços. Já foi confirmada uma 2ª temporada prevista
para 2020.