Com roteiro escrito pela própria autora Anne Rice, Entrevista com
o vampiro é uma das mais notáveis produções vampirescas lançadas no decorrer
dos anos 90, ficando no mesmo patamar do clássico Drácula de Bram Stoker, de
Coppola (comentado AQUI). Dirigido por Neil Jordan (que a autora ajudou a escolher por gostar de
seu trabalho em A companhia dos lobos), o filme é uma adaptação do primeiro
volume da longa série literária conhecida no Brasil como Crônicas Vampirescas.
Protagonizado por Brad Pitt, Tom
Cruise e Antonio Banderas, além da então pequena Kirsten Dunst, o filme tem uma
legião de fãs que aprovaram a adaptação, mas, inevitavelmente, também conta com
um número significativo de leitores menos impressionáveis e mais exigentes da
obra de Rice, os quais criticam a produção, em especial pela escolha dos
atores. Isso porque Cruise, Banderas e até Dunst interpretam personagens muito
mais jovens do que os atores aparentam; Banderas, principalmente, interpreta
Armand, um vampiro descrito no livro como um adolescente ruivo. Particularmente,
porém, achei a ideia de um Armand com aparência de adulto muito plausível neste
filme, porque é mais fácil acreditar na mentira de que ele é o vampiro mais
velho que existe (como ele afirma para Louis) aparentando ser mais velho do que
Brad Pitt (que interpreta Louis) do que se escolhessem um ator
adolescente. Não creio que Banderas pudesse permanecer sendo Armand se, hipoteticamente, os demais livros fossem adaptados para o cinema, mas como filme isolado ele se sai muito bem.
Quanto a Tom Cruise, a própria Rice inicialmente
torceu o nariz para a escolha dele para viver Lestat, apelidado nas Crônicas de
Príncipe Moleque, devido à sua pouca idade e temperamento inquieto. De fato,
Cruise não corresponde à imagem concebida pela escritora para seu personagem
mais querido, mas, a despeito disso, considero sua atuação impecável, tão
marcante quanto Gary Oldman como Drácula. Cruise apresenta um Lestat hedonista,
sensual, ambíguo e por vezes sarcástico que funciona em perfeita sintonia com a
atuação mais emotiva de Pitt como o atormentado Louis. Não menos importante é a
atuação arrebatadora de Kirsten Dunst como a voluntariosa Claudia, a pequena
vampira “filha” de Louis e Lestat.
Em relação à trama, pouco há a ser
falado que já não tenha sido abordado especificamente no texto sobre o livro
Entrevista com o vampiro. Afora uma ou outra modificação na história original
(como as circunstâncias que levaram o Louis humano à depressão e,
posteriormente, a conhecer Lestat e a peregrinação de Louis pela Europa antes de chegar a Paris), o roteiro é bastante fiel à obra escrita, o
que demonstra o respeito da autora pelos leitores e, mais que isso, o
perfeccionismo dela. Juntamente com Jordan, ela procurou preservar o máximo
possível dos elementos característicos do livro e do universo criado por ela,
como o teor gótico da história e a sensualidade dos vampiros (nesse aspecto, de
um tom perceptivelmente homoerótico). Figurinos,
fotografia e direção de arte são fatores que acentuam ainda mais o capricho da
obra. Além disso, há ainda os ótimos efeitos especiais práticos, usados com inteligência
e sem espalhafato, apenas nos momentos em que são realmente necessários – como na
tentativa de assassinato de Lestat cometida por Cláudia. Felizmente, na década
de 1990 o cinema ainda não tinha sido invadido pelo preguiçoso e tosco CGI de
hoje. A cena que usa mais efeitos é o incêndio do Teatro dos Vampiros, e ainda
assim não me pareceu exagerada ou falsa como acontece em qualquer “épico”
atualmente. A moderação não deveria ser tão subestimada.
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