Quatro vampiros de idades, origens e personalidades diferentes moram
na mesma casa, em Wellington, Nova Zelândia. Eles precisam constantemente
adaptar sua condição vampírica às mudanças do mundo moderno e às tecnologias,
bem como lidar com os próprios atritos entre si. Este é, basicamente, o
conteúdo de O que fazemos nas sombras, que lembra a premissa da série Being
Human. A diferença fundamental é que na série britânica da BBC (bem como no
remake americano da SyFy) os seres sobrenaturais que dividem a mesma casa
têm naturezas distintas: tratam-se de um vampiro, um lobisomem e uma fantasma. Outro
aspecto notável é que, enquanto a série procura conciliar o drama e o humor,
este filme é abertamente uma comédia de humor negro.
Com muita criatividade o filme, dirigido por Taika Waititi e
Jemaine Clement (que também atuam) se apresenta como um documentário, no qual
alguns cinegrafistas, devidamente “preparados” – o que inclui o uso de
crucifixos – obtêm permissão para registrar o cotidiano dos vampiros Vladislav
(Jemaine Clement), Viago (Taika Waititi), Petyr (Ben Fransham) e Deacon
(Jontahan Brugh). Assim, temos uma visão subjetiva (que em alguns momentos até
lembra o estilo found footage), onde acompanhamos
a perspectiva dos cinegrafistas que, evidentemente, não “aparecem”.
O que fazemos nas sombras satiriza a imagem arquetípica do vampiro
no cinema em vários níveis, a começar pela própria representação de seus
personagens: Vladislav é claramente inspirado no Drácula “real”, o Empalador,
com um visual que remete ao de Gary Oldman no filme Drácula de Bram Stoker. Petyr, com sua
aparência bizarra, careca, branco, praticamente mudo e dentuço, é inspirado no Nosferatu de Murnau; Deacon é o vampiro rebelde, do tipo “tô nem aí”, que lembra os
sanguessugas jovens da década de 80, como Severen, de Quando chega a escuridão. Viago, por sua vez,
muito engomado e afetado, é o típico almofadinha que poderia ter saído de Entrevista com o vampiro.
Além desses personagens principais ainda há espaço para coadjuvantes, como é o
caso de Nick (Cori Gonzales-Macuer), que representa o vampiro adolescente “moderno”
(não é por acaso que ele diz ser “o vampiro de Crepúsculo”).
Os vampiros deste filme têm os poderes e as fraquezas típicas, e
além de ter de conviver com suas limitações, têm de enfrentar problemas
clássicos, como sua rixa com os lobisomens, enfrentar caçadores de vampiros e até
lidar com divergências com outros “clãs”; tem espaço até para referenciar o
subgênero zumbi.
De modo geral, O que fazemos nas sombras é um filme divertido,
engraçado e inteligente que felizmente não se perde no besteirol gratuito.
Atualmente estamos numa fase de reciclagem de ideias em que todo filme
bem-sucedido deve ganhar sequência, remake, reboot ou versão para TV, de modo
que este filme não é exceção: uma série derivada já está em produção.
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