Das numerosas adaptações do livro Drácula para as telas (em
especial as que estão NESTA LISTA), acredito que este filme de Francis Ford Coppola seja
a produção mais representativa e controversa entre os leitores da obra de Bram
Stoker. Há aqueles que criticam o filme severamente, acusando-o de distorcer a
história do vampiro mais famoso do mundo, transformando-o de morto-vivo cruel e
repulsivo a gentleman apaixonado por uma amada reencarnada; nesse sentido, a
maior implicância dos leitores está no romance entre Drácula e Mina, coisa que,
de fato, não existe no livro. A certa altura da obra escrita o vampiro cria um
vínculo com Mina (assim como com outras vítimas), mas é uma ligação de pura
dominação mental, não havendo nada de romântico nela. Por outro lado, há
aqueles que consideram esta a adaptação “definitiva” do romance clássico: eu
fico neste grupo.
Mesmo acrescentando a trama romântica que desagradou tanta gente,
o roteiro de James V. Hart é, na minha opinião, o mais fiel ao livro – por mais
irônico que possa parecer. Como na obra, o filme segue uma estrutura epistolar,
com narrações de Jonathan Harker (Keanu Reeves), Mina Murray (Winona Ryder) e
Jack Seward (Richard E. Grant), além de trechos de manchetes – como a sequência sobre a
tempestade e o misterioso naufrágio do navio Demeter. O maior mérito desse roteiro em relação ao das outras adaptações é que ele respeita o máximo possível as relações e a presença dos personagens do livro. Geralmente os roteiristas cortam personagens ou "fazem salada" com eles, como em alguns filmes onde Lucy e Mina tem os papéis (e funções) trocados, ou são irmãs, ou Lucy é filha de Jack Seward, ou Arthur e Quincey não existem (ou são uma pessoa só)... enfim: é uma bagunça absurda. Já neste Drácula de Bram Stoker, excetuando a ausência da mãe de Lucy, quase tudo é preservado tal qual na obra original: Mina é amiga de Lucy; Lucy tem os três pretendentes: Arthur, Quincey e Seward; Mina é noiva de Jonathan. Para quê complicar?
A trama começa com uma sequência inexistente no livro, mas que
justifica alguns elementos importantes do filme: uma batalha entre o exército
do Drácula “real”, histórico contra os turcos. Dessa batalha resultam a perda
de sua amada esposa e a conversão de Drácula em vampiro, numa cena dramática que
mostra a origem do vampirismo e o porquê da sua consequente intolerância aos
símbolos cristãos.
A escolha de Gary Oldman como protagonista é tão peculiar quanto
acertada. O ator realmente não lembra o personagem do livro e nem os outros
Dráculas anteriores do cinema, com cabelo lambido e capa preta; em compensação,
parece muito o Drácula histórico, Vlad Tepes, o Empalador, e é exatamente isso
que o filme quer ressaltar. Independentemente disso, Oldman apresenta uma
atuação inspirada, seja nos momentos em que assombra seus perseguidores e
vítimas, seja quando se deixa arrebatar por seu amor à Mina, por quem “cruzou
oceanos de tempo”. O elenco de apoio também está impecável, particularmente
Anthony Hopkins (que considero o melhor Van Helsing do cinema) e Sadie Frost
como a memorável Lucy Westenra. Até personagens menores, como as noivas de
Drácula (destaque para Monica Bellucci) estão muito bem situados.
Nos aspectos técnicos, este filme é um show à parte. A direção de
arte na viagem de Jonathan à tenebrosa Transilvânia e nas cenas noturnas na
enevoada Londres do século XIX, consegue nos transportar para a atmosfera
sombria sugerida pelo livro com perfeição. Além disso, os figurinos exuberantes
e a maquiagem de efeitos práticos tornam a experiência de vê-lo ainda mais
fascinante.
Vencedor de 3 Oscars, Drácula de Bram Stoker não só é a melhor
versão do romance, como também é meu filme de vampiros favorito de todos os
tempos, mesmo que Entrevista com o vampiro, de Neil Jordan, esteja
constantemente disputando o posto. Ambos são caprichosas adaptações de
excelentes obras literárias que resultaram em espetáculos góticos sensuais: um tributo à essência clássica dos eternos sanguessugas.
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