* Publicação no Brasil
O título do livro de Sam Cabot – na verdade, pseudônimo da
parceria Carlos Dews e S.J. Rozan – sugere tratar-se de uma obra com aspectos
religiosos e, talvez, sobrenaturais. De fato, é um thriller que une elementos referentes a religião, especificamente
ao catolicismo, com um toque sobrenatural proporcionado pela presença de
vampiros. Mas, não vampiros no sentido clássico e tradicional como
representados no cinema e na literatura antes da geração Crepúsculo.
Os vampiros de O sangue do cordeiro
pouco têm de sobrenatural, a não ser a imortalidade, rapidez, resistência e
força sobre-humanas, fascinação sobre os mortais, além de, claro, a sede de sangue humano. O restante do glamour e poder conferido aos sanguessugas (como habilidade de se transformar
em animais, voar e hipnotizar) foi suprimido pelos autores porque eles
preferiram fazer uma abordagem mais humanizada e científica sobre o tema. Assim
o vampirismo aqui é resultado de uma mutação causada por um micro-organismo que
altera o DNA humano. Aliás, talvez para se dissociar das ideias fantasiosas a
seu respeito, os vampiros nem são chamados assim; preferem o termo “noantri” ("nós
outros"), enquanto se referem aos seres humanos mortais como “inalterados”.
A trama se passa em Roma, principalmente no rione de Trastevere,
mas também no Vaticano, locais que os protagonistas percorrem em busca de um
documento secreto escondido há seis séculos que está prestes a vir à tona, e
cujo conteúdo, se indevidamente revelado, pode abalar as bases da Igreja
Católica e, consequentemente, do mundo noantri. A premissa lembra Dan Brown (a
quem a obra é comparada na contracapa), particularmente o livro Anjos e demônios, mas enquanto lá a dupla
de protagonistas é formada por uma cientista e um simbologista, aqui o par de
heróis é ainda mais improvável: um padre e uma vampira, ambos historiadores. Mesmo
pertencendo a “espécies” diferentes, eles precisam se unir na busca pela
Concordata, pois sua divulgação será desastrosa tanto para os noantri quanto
para os inalterados, levando a humanidade ao caos.
Em meio a perseguições, trapaças e correria o padre Thomas e a
vampira Livia seguem as pistas secretamente deixadas pelo noantri que roubou a
Concordata da Biblioteca do Vaticano há mais de 150 anos e a escondeu em algum
lugar de Roma. As pistas são poemas enigmáticos escondidos em igrejas, os quais
apontam sistematicamente para a próxima.
Um ponto muito positivo deste livro é que ele possui dois mapas
detalhados: um de Roma, destacando a Cidade do Vaticano, e outro
especificamente de Trastevere, que é onde se encontra a maioria das igrejas,
ruas e outros locais citados na obra. Isso facilita bastante para o leitor se
situar enquanto acompanha o trajeto dos personagens. Outro bônus muito
interessante é o posfácio da obra, o qual é formado por uma lista de noantri
historicamente importantes; lista essa que possui nomes de escritores, músicos,
políticos e personagens bíblicos, entre outras “celebridades”.
Quanto ao titulo do livro, é explicado (ou melhor, subentendido)
com uma revelação chocante feita já próximo ao final, envolvendo figuras
proeminentes do Cristianismo; algo que poderia até deixar o Vaticano mais
indignado do que ficou com O código Da
Vinci, se não fosse pelo fato de que dessa vez estamos diante de seres que –
feliz ou infelizmente – não existem.
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