Apesar de se passar no mesmo local
e época do romance gótico de Bram Stoker (Londres, no final do século XIX),
esta versão de Drácula não é uma adaptação do livro clássico. De maneira
similar a Penny Dreadful, esta série criada por Cole Haddon para a NBC utiliza personagens
e situações do livro e as reformula para criar algo notavelmente diferente,
inclusive invertendo certas perspectivas convencionais da história original.
A trama começa em 1881, com Van
Helsing (Thomas Kretschmann) adentrando no túmulo de Drácula (Jonathan Rhys
Meyers), na Romênia, onde o vampiro está aprisionado num estado mumificado.
Porém, ao invés de destruí-lo, Van Helsing deliberadamente o desperta, com a
intenção de se associar a ele na execução de um plano de vingança contra um
inimigo em comum. Há um avanço de quinze anos e somos transportados para
Londres, onde um “novo rico” americano de nome Alexander Grayson acaba de chegar
disposto a causar uma revolução na sociedade e no mercado com seu inovador
empreendimento tecnológico. Grayson é ninguém menos que o próprio Drácula, e
seus negócios em Londres são apenas parte do seu objetivo principal: destruir a
Ordem do Dragão – uma sociedade secreta formada por empresários e outros
membros da elite britânica que controlam a economia. Porém, assim como Grayson,
a Ordem tem outra função: através dos séculos eles combatem heresias, o que
inclui destruir vampiros com uma equipe altamente treinada de caçadores e
videntes (pessoas com a habilidade extra-sensorial de localizá-los
telepaticamente).
Nesta versão da história, Drácula
pode ser considerado, à sua maneira, o “mocinho” da história, ficando para os
membros da Ordem do Dragão, principalmente seu líder, Mr. Browning (Ben Miles),
o papel dos vilões. Em sua vida humana, Drácula teve sua esposa capturada e
queimada como feiticeira pela Ordem, sendo ele também preso, torturado e
amaldiçoado, tornando-se o primeiro vampiro. Nesse episódio trágico da vida do
personagem, e também pelo fato de a esposa de Drácula ter reencarnado nos dias “atuais”
na pele de Mina Murray (Jessica De Gouw), a série lembra o filme de Francis Ford Coppola,
assim como a obsessão romântica do vampiro por ela.
Para levar a cabo sua vingança
contra aqueles que destruíram sua vida e o tornaram o senhor das trevas,
Drácula conta com a ajuda de Van Helsing, que compartilha do mesmo ódio pela
Ordem, pois sua família também foi exterminada por eles. Através de seus
conhecimentos científicos, Van Helsing desenvolve um procedimento que permite a
Drácula andar ao sol, embora por tempo limitado. Assim, ele não só consegue
desviar de si as suspeitas de ser um vampiro como também desenvolve um perigoso
jogo de sedução e manipulação com Lady Jane (Victoria Smurfit), a melhor
caçadora e braço direito de Mr. Browning. A propósito, esta série combina muito
bem elementos eróticos e sangrentos; mesmo sendo mais light do que Penny Dreadful, ela explora bem o teor sexual dos
personagens (inclusive apresentando momentos homoeróticos) e o horror explícito
em cenas intensas onde o sangue jorra com gosto.
Embora tenha sido cancelada após a
primeira temporada, a história proposta foi bem contada e o final foi quase
totalmente amarrado. Os principais conflitos desenvolvidos foram resolvidos no
último episódio (foram 10, no total), alguns personagens tiveram sucesso em
seus planos, outros encontraram a morte inevitável, outros tiveram uma guinada
no que acreditavam... A última cena deixa uma ponta solta para continuação, mas
francamente não acho que precisaria render mais uma temporada; creio que mais
dois episódios seriam o bastante para resolver tudo e encerrar definitivamente
esse Drácula.
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