Assim como O estranho mundo de Jack é lembrado como um dos filmes
mais célebres de Tim Burton, embora não tenha sido dirigido por ele, Um drink
no inferno é apontado como um dos principais trabalhos de Quentin Tarantino,
embora ele também não seja o diretor desta produção. A direção fica por conta
de Robert Rodriguez, mas Tarantino foi o responsável pelo roteiro, além de ser
o produtor e atuar em um dos papéis principais.
Na trama, Seth (George Clooney) e Richard (Tarantino) são os
irmãos Gecko, criminosos procurados pela polícia do Texas por assalto a banco e
assassinato de mais de quinze pessoas. Eles pretendem escapar com o produto de
seus roubos fugindo para o México e, para isso, sequestram a família do pastor
Jacob Fuller (Harvey Keitel) como reféns e fachada até que a fuga acabe como
planejado. Entretanto, quando eles finalmente cruzam a fronteira mexicana, chegam
a uma região desolada onde se deparam com o Titty Twister, uma espécie de casa
noturna aberta “do anoitecer ao amanhecer” (vindo daí o título original do
filme). Os Gecko e os Fuller entram nessa “boate” (aqueles, para comemorar o sucesso
na fuga; estes, coagidos pelos primeiros) e, quando a noite fecha, o lugar se
transforma no palco de uma carnificina vampiresca liderada pela bela Santanico
Pandemonium (Salma Hayek).
Um drink no inferno é uma mistura de terror e ação, mas também tem
umas pitadas de comédia (sobretudo nas sequências de ataque dos vampiros) que
lembram os filmes trash da década de 80 em sua melhor forma: desde a maquiagem
tosca dos vampiros em sua forma “reptiliana” até os exageros gosmentos nas
cenas de violência, é um filme divertidíssimo para quem aprecia o gênero.
Um ponto que considero particularmente louvável nesse filme é a
diversidade de personagens, fugindo dos velhos clichês simplistas dos “mocinhos
ingênuos sendo perseguidos pelos monstros maus”: aqui os “heróis” são bandidos,
não apenas os Gecko, mas também outros frequentadores do Titty Twister, de
caráter duvidoso, como Sex Machine (Tom Savini). O próprio Jacob Fuller está
vivendo uma crise de falta de fé que o coloca numa posição bem pouco religiosa
em relação aos filhos.
Outro ponto interessantíssimo é a mitologia criada em Um drink no
inferno para os vampiros – pelo menos aqueles que habitam o Titty Twister. Como
já mencionado, os vampiros aqui assumem uma forma extravagante quando atacam,
com pele, olhos e dentes muito semelhantes aos de répteis. Fica subentendido
que eles têm uma origem específica na mitologia asteca (o que é confirmado na
cena de desfecho do filme), mas apresentam as características básicas já conhecidas
para esses seres: temem símbolos cristãos (crucifixos e água benta), queimam ao
sol, transformam-se em morcegos mutantes e podem ser eliminados com a clássica
estaca no coração.
O filme teve duas sequências:
Um drink no inferno 2: Texas sangrento (From dusk till dawn: Texas
bloody money, 1999): Este eu considero inteiramente descartável por não ter vínculo com
o primeiro (exceto por uma curta cena no Titty Twister na primeira metade do
filme);
Um drink no inferno 3: A filha do carrasco (From dusk till dawn 3:
The hangman’s daughter, 2000): Achei este bem mais interessante que o 2º; não é uma sequência,
mas um filme do tipo “o início”, que narra eventos anteriores aos ocorridos no
primeiro filme, destacando as origens de Santanico e sua ascensão ao posto de
rainha vampira do Titty Twister.
O filme original também deu origem à série de TV: From Dusk till Dawn: The Series, lançada em 2014, sendo produzida pelo próprio Robert Rodriguez.
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