Vampiros e máfia: essa é a extravagante combinação apresentada em
Inocente mordida. Dirigido por John Landis (do clássico Um lobisomem americano
em Londres), a história se passa em Pittsburgh e, dessa vez, ao invés do confuso
lobisomem David, temos uma vampira chamada Marie (Anne Parillaud) que, conforme
a perspectiva, pode ser considerada uma sanguessuga “boazinha”. Isso porque, embora sanguinária e selvagem, Marie persegue e se alimenta somente do sangue de
homens “maus”, tendo uma preferência especial por bandidos (itens em abundância
naquela cidade). Por essa razão, penso que a tradução literal do título
original do filme (“Sangue inocente”) seria muito mais apropriada do que o título
nacional, que é bastante genérico. Nesse aspecto, Inocente mordida lembra
Garota sombria caminha pela noite, mas a semelhança para aí; se o filme de Ana Lily Amirpour é sério e contemplativo, o de Landis é bem mais leve e dotado do típico senso
de humor negro característico do diretor.
Na trama, Marie conta suas andanças até a malfada noite em que se
depara com Sal Macelli (Robert Loggia), o chefão do crime organizado na cidade.
Ela o ataca, mas algo dá errado e Macelli acaba se tornando num vampiro que
fica cada vez mais forte e insano, chegando ao ponto de pretender converter seus
capangas em vampiros também. Cabe a Marie tentar reparar seu erro e impedir Macelli
antes que ele transforme a cidade numa espécie de Transilvânia da máfia. Para isso
ela conta com a ajuda de Joe Genaro (Anthony Lapaglia), policial que estava infiltrado
na gangue de Macelli e com quem Marie acaba desenvolvendo um tórrido vínculo
sexual. Aliás, o sexo é um conceito interessante neste filme, pois é uma
necessidade tão imperativa para Marie quanto o sangue.
Os vampiros de Inocente mordida não possuem os tradicionais caninos
afiados; suas mordidas, que nada têm de inocentes, são selvagens, arrancando
nacos de carne das gargantas das vítimas.
Seus olhos mudam de cor e ficam luminosos como faróis; além disso, quando
expostos ao sol, sofrem uma fatal transformação (ponto para os ótimos efeitos
práticos).
Embora se situe no limiar entre o terror e a comédia, o humor de
Inocente mordida não é escrachado ou pastelão; as cenas cômicas, como a
adaptação de Macelli ao seu estado vampírico e a sequência do advogado no
hospital são de um humor negro espontâneo e orgânico que lembra o estilo original
de Um lobisomem americano em Londres. Para completar o pacote, o filme faz
homenagem a dois clássicos vampirescos do cinema: Drácula, de 1931, com Bela Lugosi e Horror de Drácula, de 1958, protagonizado por Christopher Lee.
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