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[FILME] GAROTA SOMBRIA CAMINHA PELA NOITE (A Girl Walks Home Alone At Night, 2014)

quarta-feira, 4 de julho de 2018.

Como o próprio título sugere, Garota sombria caminha pela noite acompanha as andanças noturnas de uma moça sem nome pelas ruas de uma cidade iraniana fictícia chamada Bad City (nome que cai como uma luva para aquele lugar deprimente povoado de traficantes, viciados e prostitutas). A moça, como se vem a saber em pouco tempo, é uma vampira solitária que vaga à procura dos miseráveis que não faltam naquelas ruas, o que inclui desde crianças más até mafiosos. Posteriormente, ela conhece o problemático Arash (Arash Marandi), numa cena que inverte e ironiza o papel clássico de vampiro x donzela indefesa. A estranha ligação que se desenvolve entre eles é acentuada pelo amor em comum pela música (aliás, um ponto que merece destaque neste filme é a ótima trilha sonora).
Com direção de Ana Lily Amirpour, Garota sombria caminha pela noite rapidamente ganhou status de cult, e chama a atenção por ser original utilizando recursos simples, começando por optar pela filmagem em preto e branco, o que contribui para dar a sugestão de ambiente decadente e mórbido, mesmo nas cenas diurnas. Além disso, reforça a ideia de que aquele ambiente é mesmo o Irã, quando na verdade este é um filme americano. O fato de ter sido filmado em farsi acentua ainda mais o “embuste”.
          Quanto à vampira,  merece particular destaque, primeiro pela atuação de Sheila Vand; ela tem poucas falas, mas seus olhares, gestos e até silêncios são carregados de uma expressividade impressionante. Outro aspecto interessante é a representação do vampiro aqui; a garota só aparece à noite, o que evidencia ser uma sanguessuga à moda antiga (embora não haja qualquer referência a suas origens). Ela também não ingere nada, além de sangue e possui caninos retráteis semelhantes aos dos vampiros de True Blood. Assim como não explica a origem vampírica da garota, o filme não introduz e nem segue uma receita para a conversão em vampiro: ela foi mordida? Ou o vampiro é uma espécie, e, portanto, a garota já nasceu assim? Não acho que essas explicações tenham feito falta, porque fica claro que a intenção do filme não é abordar a mitologia vampiresca; isso parece não ter importância para a diretora, mais preocupada em inserir um subtexto fortemente feminista na obra. O fato de a garota ser a única vampira no filme evidencia que Garota sombria caminha pela noite é, antes de qualquer coisa, um drama sobre solidão e desajuste social temperado com o sobrenatural.
          Com um ritmo lento que remete a Deixa Ela Entrar e Martin, este filme é mais um dos que podem desagradar aqueles que esperam ação e carnificina; não que a garota aqui seja sutil ou politicamente correta na hora de deixar seus impulsos sanguinários virem à tona: muito pelo contrário! Porém, é uma produção mais contemplativa, que sobrepõe o vazio existencial e a – talvez – descoberta do amor às cenas sangrentas e grotescas.

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