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[FILME] OS GAROTOS PERDIDOS (The Lost Boys, 1987)

quarta-feira, 7 de novembro de 2018.
Após se divorciar, Lucy (Diane Wiest) se muda para a pequena cidade costeira de Santa Carla, na Califórnia, com seus dois filhos, Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim). Enquanto Sam, o caçula, se distrai frequentando a gibiteria dos Irmãos Frog, Michael vai a uma festa noturna na praia e conhece Star (Jami Gertz), uma misteriosa moça por quem se apaixona. O problema é que Star está ligada a uma gangue de jovens rebeldes e arruaceiros liderados por David (Kiefer Sutherland). Michael acaba se envolvendo com o bando e, pouco depois, passa por uma série de estranhas mudanças físicas e comportamentais sem explicação aparente. É aí que entram em ação os irmãos Alan (Jamison Newlander) e Edgar Frog (Corey Feldman): eles revelam a Sam que são, na verdade, matadores de vampiros, e que Michael está se tornando um desses terríveis seres da noite. Para ajudar o irmão a voltar a ser humano, Sam e os Irmãos Frog precisam encontrar e destruir o vampiro mestre, aquele cujo sangue Michael bebeu inadvertidamente.
          Ao apresentar vampiros no universo adolescente, pode-se dizer que Os garotos perdidos representou, para a cultura pop dos anos 80, o mesmo impacto causado pela série Crepúsculo no final da década de 2000. Evidentemente, a semelhança termina aí, pois os vampiros do filme de Joel Schumacher (o sujeito que mais tarde seria repudiado por destruir a carreira do Batman no cinema) nada têm do espírito politicamente correto característico daqueles sugadores do século XXI. Ao contrário, eles são selvagens e manipuladores, sendo também sedutores quando lhes convêm.
          Um dos aspectos que mais chamam a atenção em Os garotos perdidos é que o filme preserva o máximo de características da mitologia vampírica tradicional: aqui eles são feridos por cruzes, água benta e alho, queimam ao sol, podem ser destruídos com estacas no coração, não têm reflexo, precisam de convite para entrar nas casas, têm caninos pontiagudos, podem voar e dormem em lugares escuros, de preferência suspensos no teto como morcegos.
          Como foi dito no texto sobre Quando chega a escuridão, há bastante semelhança entre este e aquele filme: além de ambos serem de 1987, contam com uma trama romântica juvenil que ocorre no seio de uma gangue de vampiros marginais e sanguinários.
          Os garotos perdidos é, enfim, uma das produções vampirescas mais marcantes sobre o tema já realizadas, merecendo o status de cult que possui entre sua legião de fãs; é também um filme estiloso e nostálgico, com a cara dos anos 80 (os cortes de cabelo e penteados da turma de David são clássicos). Nos aspectos técnicos ele também se destaca, com boa direção de arte, maquiagem, efeitos e trilha sonora: é impossível ouvir “Cry little sister” sem associar a música imediatamente ao filme.

Mais de vinte anos depois do filme original, foram lançadas duas sequências inteiramente descartáveis:

Garotos perdidos 2: A Tribo (Lost boys: The Tribe, 2008) dirigido por P.J. Pesce, nada acrescenta de relevante ao primeiro. O único ator remanescente é Corey Feldman, mais uma vez na pele do caçador de vampiros Edgar Frog. Dessa vez ele é procurado por um jovem cuja irmã foi infectada e está prestes a se tornar uma morta-viva definitivamente. Afora as cenas gore, é um filme chato, insosso e sem personalidade. Ele tenta ousar com algumas cenas mais violentas e elaboradas do que as do original (algo fácil, já que os efeitos especiais evoluíram muito de lá para cá), mas tais cenas são poucas e não compensam o andamento desinteressante do filme. O apelo sexual gritante também não ajudou esta produção a se destacar positivamente.




Garotos perdidos 3: A Sede (Lost boys: The Thirst, 2010) dirigido por Dario Piana, é ligeiramente mais consistente que o segundo, mas igualmente dispensável. Aqui ao menos há algumas conexões com o primeiro filme: uma referência a Michael e Star, a presença de Alan e uma homenagem a Sam. Quanto à trama, à primeira vista parece ter sido tirada de True Blood, falando sobre o uso de sangue de vampiro como uma droga; entretanto, se na série da HBO o propósito do uso de “V” era o efeito alucinógeno e afrodisíaco, neste filme o objetivo é bem mais pretensioso... e clichê: formar um exército de vampiros a partir do sangue do “original”.


Pessoalmente, acho Os garotos perdidos um filme completo e irretocável; uma mistura muito bem dosada de terror, romance e comédia. O fato de as continuações terem sido lançadas duas décadas depois acabou por torná-las ainda mais descaracterizadas e distantes do original. Se, hipoteticamente, essas sequências tivessem sido produzidas ainda entre o final dos anos 80 e meados da década de 90, talvez fossem melhores, pois, mesmo com roteiros fracos, ao menos teriam aquela atmosfera saudosista e estilo marcante do primeiro.

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