Após se divorciar, Lucy (Diane Wiest) se muda para a
pequena cidade costeira de Santa Carla, na Califórnia, com seus dois filhos,
Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim). Enquanto Sam, o caçula, se distrai
frequentando a gibiteria dos Irmãos Frog, Michael vai a uma festa noturna na
praia e conhece Star (Jami Gertz), uma misteriosa moça por quem se apaixona. O
problema é que Star está ligada a uma gangue de jovens rebeldes e arruaceiros
liderados por David (Kiefer Sutherland). Michael acaba se envolvendo com o
bando e, pouco depois, passa por uma série de estranhas mudanças físicas e
comportamentais sem explicação aparente. É aí que entram em ação os irmãos Alan
(Jamison Newlander) e Edgar Frog (Corey Feldman): eles revelam a Sam que são,
na verdade, matadores de vampiros, e que Michael está se tornando um desses
terríveis seres da noite. Para ajudar o irmão a voltar a ser humano, Sam e os Irmãos
Frog precisam encontrar e destruir o vampiro mestre, aquele cujo sangue Michael bebeu inadvertidamente.
Ao apresentar vampiros no universo adolescente,
pode-se dizer que Os garotos perdidos representou, para a cultura pop dos anos
80, o mesmo impacto causado pela série Crepúsculo no final da década de 2000. Evidentemente,
a semelhança termina aí, pois os vampiros do filme de Joel Schumacher (o sujeito
que mais tarde seria repudiado por destruir a carreira do Batman no cinema)
nada têm do espírito politicamente correto característico daqueles sugadores do
século XXI. Ao contrário, eles são selvagens e manipuladores, sendo também
sedutores quando lhes convêm.
Um dos aspectos que mais chamam a atenção em Os
garotos perdidos é que o filme preserva o máximo de características da
mitologia vampírica tradicional: aqui eles são feridos por cruzes, água benta e
alho, queimam ao sol, podem ser destruídos com estacas no coração, não têm
reflexo, precisam de convite para entrar nas casas, têm caninos pontiagudos, podem
voar e dormem em lugares escuros, de preferência suspensos no teto como
morcegos.
Como foi dito no texto sobre Quando chega a escuridão, há bastante semelhança
entre este e aquele filme: além de ambos serem de 1987, contam com uma trama romântica
juvenil que ocorre no seio de uma gangue de vampiros marginais e sanguinários.
Os garotos perdidos é, enfim, uma das produções
vampirescas mais marcantes sobre o tema já realizadas, merecendo o status de
cult que possui entre sua legião de fãs; é também um filme estiloso e
nostálgico, com a cara dos anos 80 (os cortes de cabelo e penteados da turma de
David são clássicos). Nos aspectos técnicos ele também se destaca, com boa
direção de arte, maquiagem, efeitos e trilha sonora: é impossível ouvir “Cry
little sister” sem associar a música imediatamente ao filme.
Mais de vinte anos depois do filme original, foram
lançadas duas sequências inteiramente descartáveis:
Garotos perdidos 2: A Tribo (Lost boys: The Tribe,
2008) dirigido por P.J. Pesce, nada acrescenta de relevante ao primeiro. O único
ator remanescente é Corey Feldman, mais uma vez na pele do caçador de vampiros
Edgar Frog. Dessa vez ele é procurado por um jovem cuja irmã foi infectada e está
prestes a se tornar uma morta-viva definitivamente. Afora as cenas gore, é um
filme chato, insosso e sem personalidade. Ele tenta ousar com algumas cenas mais violentas e elaboradas do que as do original (algo fácil, já que os efeitos especiais evoluíram muito de lá para cá), mas tais cenas são poucas e não compensam o andamento desinteressante do filme. O apelo sexual gritante também não ajudou esta produção a se destacar positivamente.
Garotos perdidos 3: A Sede (Lost boys: The Thirst,
2010) dirigido por Dario Piana, é ligeiramente mais consistente que o segundo,
mas igualmente dispensável. Aqui ao menos há algumas conexões com o primeiro
filme: uma referência a Michael e Star, a presença de Alan e uma homenagem a
Sam. Quanto à trama, à primeira vista parece ter sido tirada de True Blood,
falando sobre o uso de sangue de vampiro como uma droga; entretanto, se na
série da HBO o propósito do uso de “V” era o efeito alucinógeno e afrodisíaco,
neste filme o objetivo é bem mais pretensioso... e clichê: formar um exército
de vampiros a partir do sangue do “original”.
Pessoalmente, acho Os garotos perdidos um filme
completo e irretocável; uma mistura muito bem dosada de terror, romance e comédia. O fato de as continuações terem sido lançadas duas
décadas depois acabou por torná-las ainda mais descaracterizadas e distantes do original.
Se, hipoteticamente, essas sequências tivessem sido produzidas ainda entre o
final dos anos 80 e meados da década de 90, talvez fossem melhores, pois, mesmo
com roteiros fracos, ao menos teriam aquela atmosfera saudosista e estilo
marcante do primeiro.
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