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[FILME] UM ESTRANHO VAMPIRO / O BEIJO DO VAMPIRO (Vampire's Kiss, 1988)

domingo, 29 de julho de 2018.

Apesar de ser geralmente rotulado como comédia, Um estranho vampiro (também conhecido pelo título alternativo O beijo do vampiro) é uma produção que eu acredito que vai além dessa classificação simplista, tanto pelo roteiro extravagante quanto pelo próprio estilo de humor centrado nos efeitos de um grave transtorno mental.
Dirigido por Robert Bierman , o filme já começa com Peter Loew (o personagem de Cage) numa sessão de terapia com sua psiquiatra, o que já dá uma pista da instabilidade mental dele, que só aumenta ao longo da história, culminando com sua crença de que se tornou um vampiro. Loew trabalha numa agência literária e a perda do contrato de um cliente funciona como gatilho para deixá-lo mais desequilibrado e esquisito do que ele já é. A partir daí ele passa a pressionar sua secretária, Alva (Maria Conchita Alonso), para que ela encontre tal documento. A pressão vai se agravando, tornando-se perseguição e assédio em situações cada vez mais bizarras, onde Loew não fica devendo muito a Jack Nicholson em O Iluminado, em termos de loucura desenfreada. O humor do filme é justamente sustentado pela atuação alucinada de Nicolas Cage nessas situações sem noção, onde ele faz um bocado de caras e bocas (que, inclusive, se tornaram memes nas redes sociais), enquanto seu personagem se deixa consumir rapidamente por um comportamento neurótico e esquizofrênico.
A abordagem do vampirismo deste filme lembra muito o trabalho de George Romero em Martin (comentado AQUI); em ambos os casos trata-se de uma condição patológica relacionada a distúrbios psicológicos. Em Martin, o personagem-título crê ser vampiro devido a uma maldição da família, enquanto em Um estranho vampiro (considero este título bem apropriado) o estresse do trabalho somado à convicção de que foi mordido por uma vampira num encontro casual pouco depois de “lutar” com um morcego que invadiu seu apartamento, resultam na condição vampiresca de Loew.  Também os finais dos dois filmes são muito parecidos, com resultados trágicos para os transtornos dos protagonistas.
Mesmo que o elemento vampiresco presente neste filme seja essencialmente psicológico, acho que é uma produção que merece ser conferida, pois faz referências aos mais diversos elementos do universo dos sugadores. Loew chega ao cúmulo de usar uma dentadura de vampiro de plástico, quebrar os espelhos de sua casa, vedar as janelas para que a luz solar não entre e até a improvisar um caixão emborcando um sofá para dormir embaixo dele. Isso sem falar na “estaca” que ele passa a carregar, como uma penitência por sua natureza vampírica, já próximo do final. E, como cereja do bolo, ele ainda assiste ao Nosferatu, de Murnau.


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