Lançado pouco antes de Anne Rice fazer sua estreia no mundo
vampiresco e consolidar-se como a rainha dos sanguessugas, A hora do vampiro (atualmente
publicado com o título ‘Salem) é o segundo romance de Stephen King, precedido
por Carrie. Tomando como base o clássico Drácula, de Bram Stoker, King substitui
a Londres do século XIX por uma pequena e insignificante cidade fictícia da
Nova Inglaterra na década de 70. É lá que gradualmente se desenrola a história
de Ben Mears, escritor que retorna àquela cidade tentando superar um velho
trauma de infância que pode ter implicações com o sobrenatural.
Paralelamente à chegada de Ben a Jerusalem’s Lot, também chegam ali
o misterioso Straker e seu ainda mais misterioso sócio Barlow, que supostamente
estão interessados em abrir uma loja de “artigos finos” na cidade. Pouco tempo
depois, estranhos acontecimentos passam a acontecer na região: mortes e
desaparecimentos inexplicáveis e aparentemente sem ligação, que vão se tornando
cada vez mais alarmantes. Nesse sentido, este livro me lembrou Totem, de David
Morrell (recomendo muito!), livro de terror de estrutura semelhante, mas que substitui
vampiros por uma outra criatura assustadora.
É muito interessante o modo como King constrói o suspense e a
atmosfera de horror de forma crescente, revelando aos poucos os detalhes sobre
as entidades malignas que estão aterrorizando a população da cidade, permitindo
que o leitor descubra por si só que são vampiros, sem atirar essa informação gratuitamente.
Infelizmente, todo o trabalho que o autor teve para manter a “identidade”
dessas criaturas em sigilo até o momento certo é burlada pelo título da edição
brasileira do livro, que praticamente escancara: ”este é um livro sobre
vampiros!”. Mesmo na edição mais recente consta na capa a nota “Publicado
originalmente como ‘A hora do vampiro’”.
Os vampiros de King, aliás, seguem o máximo da cartilha clássica:
podem flutuar, hipnotizar, transformar-se em névoa para desaparecer, precisam
ser convidados para entrar nas casas, temem símbolos cristãos como Bíblias e
crucifixos, devem ser destruídos com a tradicional estaca no coração e temem a
luz solar. Excetuando-se o vampiro líder (melhor não revelar quem é, para não
estragar a leitura mais do que o título já faz), os demais vampiros agem instintivamente,
como zumbis, sem inteligência ou vontade própria, movidos apenas pela sede de
sangue e pelo comando do “Mestre”.
Da primeira vez que li A hora do vampiro a impressão que o livro me
passou não foi das melhores, de modo que uma resenha que escrevi após aquela
leitura deixava transparecer a minha frustração. Pareceu-me, naquela época, que
a história tinha um excesso de tramas paralelas desnecessárias e que demorava
demais para apresentar os vampiros, apresentando um enredo muito arrastado. Hoje,
justifico essa má impressão pelo fato de que este foi o primeiro livro de Stephen
King que li; assim, eu ainda não estava familiarizado com as “manhas” e com o
estilo característicos do autor, como estou agora. Talvez – e mais uma vez,
jogo a culpa no título nacional – eu esperasse um espetáculo sangrento “imediato”,
coisa que não é o estilo dele. Chegam sim os momentos de horror e
sanguinolência típicos do mestre do terror contemporâneo, mas há todo um
desenvolvimento dos personagens e uma detalhada (sim, lenta também) construção dos
arcos narrativos antes que o bicho pegue.
Com essa releitura eu me retrato e ratifico: este é, afinal, um
dos melhores livros de vampiros que já li.
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